Para o iteano João Gomez (T61), a história da ITAEx começa em 1948, quando seu pai faleceu, deixando uma família com sete filhos. “Eu era o quarto, tinha 11 anos e meio. Minha mãe, uma mulher decidida, colocou os primeiros quatro a trabalhar. Fui atuar como entregador de farmácia de manipulação, usando uma bicicleta”, conta ele. Mas o sonho de João era ser engenheiro, e, quando chegou a hora, prestou vestibular exclusivamente para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Após um cursinho, foi aprovado na segunda tentativa.
Em sua trajetória profissional, teve quatro empregos, sendo o último como vice-presidente do Grupo Abril, onde permaneceu por 17 anos. Quando saiu, aos 50 anos, decidiu empreender, fundando várias empresas com o patrimônio que acumulou como empregado. Em 2014, vendeu a maior delas para os americanos, aquela que exigia a maior carga de trabalho.
Mesmo já contribuindo com a AEITA (Associação dos Engenheiros do ITA) e com o programa FADA, e outro destinado ao Professor Jackson Paul Matsuura (T95) — uma iniciativa acadêmica de robótica que antecedeu o projeto ITAndroids —, João sentia-se devedor do ITA. Começou, então, a pensar em maneiras de fortalecer a instituição. Organizou dois almoços com a Turma de 1961, e a adesão foi grande. Em uma sexta-feira, João, junto com Jose Ellis Ripper Filho e Samuel Kasayuki Konishi — que ele denomina como “triunvirato” —, foram até o gabinete do então Reitor, Fernando Toshinori Sakane.
O ITA estava em plena aplicação do vestibular, e o Reitor havia convocado algumas professoras para uma reunião, quando uma delas reclamava que a lâmpada de um equipamento de milhões de reais havia queimado. Ela, então, contou que havia pedido para comprar uma nova, mas após seis meses e muitas idas e vindas, pediram que ela desenhasse a lâmpada e especificasse suas características. Não podiam comprar o item com a marca e o modelo do original, pois isso violaria as regras de licitação. A professora já havia desistido. O Reitor, por sua vez, explicou que havia verba, mas pouca flexibilidade para agir. O triunvirato, no entanto, retrucou: “Dinheiro não temos, mas flexibilidade temos”. Na segunda-feira seguinte, o triunvirato enviou uma proposta, e o Reitor respondeu no mesmo dia, aprovando a iniciativa. Assim nasceu a “T61 Apoiando o ITA”!
“Saí em busca de apoio dentro da minha turma. Conversei com Rômulo Villar Furtado, Samuel Kasayuki Konishi, Edson Vaz Musa — que sabia ser o mais abastado da turma — e Benedicto Ivan Perotti, o líder social de nossa turma, e Jose Ellis Ripper Filho. Estava, então, formado o Hexavirato”, conta João.
O próximo passo deles foi visitar os professores de Ciências Fundamentais, quando Rômulo se encantou com a ideia das Aulas Invertidas de Matemática, proposta pelo Professor Renan Lima, e prometeu montar um estúdio de televisão. Rômulo, que possuía uma rede de TV em Rondônia, fez isso em tempo inusitadamente recorde, o que se mostrou um grande incentivo para todos os envolvidos — tanto professores quanto membros do Hexavirato. “Saímos dessa etapa com credibilidade junto aos docentes e à comunidade iteana por mérito do Rômulo Villar Furtado”, conclui João.
Pouco tempo depois, o Ripper informou que não poderia seguir com o projeto por questões pessoais, e João Augusto Pereira C. Mac-Dowell foi convidado a integrar o grupo, recompondo o Hexavirato.
ENTREVISTA
ITAEx – Como o senhor avalia o impacto do Hexavirato no ensino e na motivação?
João Gomez – O impacto foi surpreendente. E não estou falando só por mim, nem só pela nossa turma. Lembro de um episódio específico, em um Laboratório de Física, onde convidamos um Aluno de uma turma mais recente, que mais tarde viria a ser o primeiro presidente da ITAEx, Reubens Léda de Barros Ferraz (T86, Mecânica). Ele também teve uma excelente impressão do que estávamos fazendo. Para compartilhar esse impacto, repasso um filme histórico da homenagem que o 1º ano de Química nos prestou em 2015. Foi uma verdadeira vibração! Estávamos presentes eu, Perotti e Musa, e foi um momento realmente marcante.
ITAEx – Quais foram as principais dificuldades nos primeiros anos?
João Gomez – Tivemos, sim, muitas dificuldades, pois tudo era absolutamente novo. É importante lembrar que não tínhamos experiência prévia, e o ITA não estava em funcionamento, já que era o período de férias de fim de ano letivo. Além disso, não tínhamos um relacionamento estruturado com a administração da instituição. Nossa “secretaria” era composta por uma única pessoa: a Keily, minha secretária na época e até hoje, que me ajudava na administração das empresas que eu ainda gerenciava.
Apesar desses desafios, recebemos apoio e reconhecimento muito fortes dos professores, facilitando bastante o nosso trabalho. Tudo o que arrecadamos, até o último centavo, foi integralmente repassado para os docentes ou, ao final, direcionado para a ITAEx. Não houve nenhum desconto ou retenção de qualquer ordem. O que entrou de recursos foi totalmente utilizado para apoiar as iniciativas.
ITAEx – Quais lições relevantes aprendeu no Hexavirato?
João Gomez – O nome “Hexavirato” foi algo que eu dei quando, em uma assembleia da AEITA, alguém perguntou quem compunha a direção da “T61 Apoiando o ITA”. Eu expliquei que era um “triunvirato de seis componentes”, ou seja, um grupo de seis pessoas que criaram e lideraram a iniciativa durante os anos de 2015 e 2016.
Mas as lições mais significativas sobre a “T61 Apoiando o ITA” vieram depois que, no segundo semestre de 2017, transferimos todas as responsabilidades para a ITAEx – Ex-Alunos apoiando o ITA. Foi nesse momento que comecei a notar os primeiros sinais de dificuldades na arrecadação, e a “ficha caiu”. Eu então escrevi um comunicado em que explicava minha percepção: a diferença fundamental era que, com a T61, os apoiadores estavam muito mais empenhados porque sabiam que os projetos eram iniciativas da nossa turma. Com o passar do tempo, essa convicção só se fortaleceu. Ou seja, a lição que aprendi foi que era essencial conectar os projetos para uma turma específica, dando à ela uma sensação de “propriedade” sobre a iniciativa. E hoje, estou ainda mais convencido disso. Lembro da cerimônia de posse do atual Reitor, quando ficou claro o quanto a contribuição das turmas é fundamental para o fortalecimento do ITA.
ITAEx – A Associação alcançou, após a transição, o que os dirigentes da T61 Apoiando o ITA imaginavam?
João Gomez -Definitivamente, não. E acredito que o mesmo se aplica aos dirigentes da ITAEx. Eles são, sem dúvida, tão ou mais inteligentes do que fomos, e certamente muito mais aplicados. A comunicação, por exemplo, é infinitamente melhor do que era na nossa época. O verdadeiro desafio, no entanto, não é comunicar, mas sim o que comunicar.
ITAEx – O que motiva o senhor a continuar apoiando o ITA e a formação de seus futuros engenheiros?
João Gomez – A formação dos futuros engenheiros do ITA me dá um enorme orgulho, tanto pessoalmente quanto como ex-aluno. Ver o impacto que essa formação tem na sociedade e no futuro do Brasil é uma grande satisfação para mim, e é isso que me motiva a continuar.
ITAEx – Qual sua contribuição financeira para a T-61 Apoiando o ITA e para a ITAEx?
João Gomez – No primeiro semestre de 2017, em uma reunião com o Reitor e o Presidente da ITAEx, minha família e eu nos comprometemos a repassar à Reitoria do ITA ou à ITAEx o equivalente a um milhão de reais, com base nos valores de 2017. Desde então, já repassei R$ 1.048.693,00 a valores correntes. Ainda falta um saldo de R$ 112.267,00 para completar o valor de 2017. E, com 88 anos, espero que meus filhos não precisem arcar com nada disso no futuro. pois vou liquidar esta dívida em 2025. Se consigo chegar lá.
ITAEx – Na sua opinião qual é a missão da ITAEx?
João Gomez – Prover recursos para apoiar os professores e alunos do ITA, estimulando-os em seus estudos e desempenho. Além disso, é fundamental garantir que esses recursos sejam bem administrados e utilizados de forma eficiente. O que não é fácil e entendo que está sendo bem feito.
ITAEx – O que diria aos alunos sobre engajamento e colaboração na comunidade iteana?
João Gomez – Sua Escola é ótima. Cuidem bem dela. É o mínimo que posso dizer de quem me deu condições de sobrevivência e formação ética e profissional esmerada.