Uma das maiores autoridades do mundo em estudos climáticos, Carlos Nobre lidera um novo e ambicioso projeto: transformar o coração da Amazônia em um centro de produção de ciência de ponta, unindo conhecimento técnico com saberes milenares dos povos originários.
O estudo de viabilidade do futuro Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT) deverá ser concluído no início de 2024. Tem como inspiração o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), onde Carlos Nobre – um ex-aluno de escola pública da periferia de São Paulo – se formou em Engenharia Eletrônica em 1974.
“Temos que desenvolver uma nova bioeconomia. Uma sociobioeconomia de floresta em pé. Temos a maior biodiversidade do planeta”, conta o climatologista, doutor em meteorologia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e pós-doutor em modelagem matemática de cenários climáticos pela Universidade de Maryland, ambos nos Estados Unidos.
Aos 72 anos, Carlos Nobre acumula inúmeros prêmios decorrentes de seu trabalho científico, entre os quais podem-se incluir, como membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), o Nobel da Paz de 2008, o WWF-Brasil Personalidade Ambiental e o Von Humboldt Medal (da European Geophysical Union).
Em um depoimento exclusivo à ITAEx, ele falou sobre o novo projeto na Amazônia e relembrou passagens dos seus tempos no ITA, como o episódio em que esteve muito perto de ser expulso e o momento em que despertou para a causa ambiental (a partir de uma ideia do Marechal Casimiro Montenegro Filho, idealizador do ITA). Contou, ainda, sobre um trote que mudou para sempre os rumos de sua vida.
Confira os principais trechos:
Como surgiu o interesse de ingressar no ITA?
Eu entrei no ITA em 1970. Na minha época, no que chamavam de Científico, o Ensino Médio de hoje, era muito comum, quando a gente era bom de Física e Matemática, nos dirigirmos a um curso de Engenharia. Quando a gente gostava mais de Biologia, era para o curso de Medicina. Eu era muito bom de Física e Matemática. Então, logicamente, o ITA estava na minha cabeça e prestei vestibular.
Como era a sua vida na época?
Eu era de uma família que hoje a gente chamaria de classe C. Eu trabalhava. Trabalhei todos os anos em que eu estava me preparando, no Ensino Médio. Eu trabalhava, estudava de noite. Eu estudava em escola pública, que não era muito boa. Dificilmente eu conseguiria entrar nas melhores universidades. Aí eu fiz cursinho, Anglo-Latino, em São Paulo, em 1969. Então, essa era minha vida, me preparando muito.
E, aí, eu fiz o vestibular da Escola Politécnica na USP e para o ITA, e passei nos dois. Como eu morava em São Paulo, eu comecei na Escola Politécnica. Eu continuaria a morar lá com a minha família e tudo, mas eu não gostei. O ano letivo na Politécnica começou uma semana antes do ITA. E eu cheguei lá e fui vítima de um trote horrível, ruim. E eu não gostei nada, nada. Aí, decidi conhecer o ITA. Meu pai me trouxe num fim de semana, e gostou muito. Ele tinha sido jogador de futebol profissional, e ficou apaixonado pelo campo ali no CTA [atual DCTA]. E eu também adorava, joguei futebol a vida inteira. Então, foi nesse momento que eu decidi fazer o ITA. Essa foi a razão, o contexto do meu ingresso no ITA.
Qual foi a parte mais desafiadora desse período?
Eu e a maioria dos alunos da minha turma, a turma 74, escolhemos Engenharia Eletrônica. Mas aí, quando eu estava no quarto ano, 1973, comecei a me interessar muito por meio ambiente. No trabalho de graduação, no quinto ano, eu não fiz nem Eletrônica. Naquela época, a Petrobras estava construindo sua refinaria aqui em São José dos Campos, e eu fiz, com um professor da época, um projeto para calcular a emissão de gases da torre. Aonde esses gases poderiam chegar, para ver o perigo daquilo. Foi o meu trabalho. Então, a parte mais desafiadora foi que, no último ano, eu já tinha começado a gostar muito da área ambiental, mas, logicamente, consegui fazer todas as últimas disciplinas de Engenharia Eletrônica. Eu concluí, nunca repeti, e esse foi um dos desafios.
Um outro desafio que eu tive foi, em 1972, em junho, eu infelizmente perdi meu pai num desastre de carro. Minha família estava no carro: minha mãe, minha avó e três irmãos. Um irmão se machucou muito, quase morreu. E, aí, eu fui cuidar desse irmão. Ele fez três cirurgias durante o mês de junho, em São Paulo. Eu fiquei o mês de junho todo cuidando desse meu irmão e da minha mãe também, que se machucou. Eu não assisti às aulas naquele mês. Quando eu voltei, junho já tinha praticamente acabado. Perdi uns vinte e tantos dias de aula.
Não vamos nos esquecer que nós tínhamos uma ditadura militar horrível naquela época. E eu era uma pessoa que, às vezes, criticava os militares. Era muito inocente, falava em voz alta no restaurante. O pessoal me pôs na lista negra, e surgiu um pedido para me desligar do ITA, porque eu tinha faltado muito. Mas o professor Lacaz, reitor [Francisco Antonio Lacaz Netto], me respeitava muito. Eu gostava muito de esporte, e já ajudava muito. Era o coordenador de esportes lá desde 1971, 1972, e ele vetou a tentativa de me desligar do ITA. Eu tinha notas boas, não tinha razão para ser desligado. Então, isso foi um outro desafio muito grande, mas, felizmente, todos os professores me deram as provas que eu não fiz no final de junho. Em julho, passei em tudo e a vida continuou.
Quais são suas melhores lembranças dessa época?
Eu era muito voltado para o esporte, né? Então, eu já jogava… sempre joguei futebol e, em São Paulo, eu também jogava no time juvenil de vôlei do Pinheiros. Quando cheguei no ITA, em 1970, entrei nos times de vôlei e de futebol, e nos cinco anos de curso eu joguei os campeonatos universitários. Eu era envolvido. Em 1971, nós fizemos a primeira competição contra a Escola Naval do Rio. Depois, fizemos também uma competição contra a Escola de Medicina da USP. Então, eu era muito voltado para isso.
Aprendi a jogar basquete nesses tempos, e cheguei a ser reserva do time do ITA. Não cheguei a ser titular, mas aprendi bem. Tinha uma enorme facilidade para esporte. São as minhas melhores lembranças da época. Jogava todos os dias. Treinava futebol, vôlei, basquete… passava o fim de semana jogando. Aquilo era a minha vida.
A outra grande lembrança da época foi que Brigadeiro Montenegro estava muito preocupado que a grande parte dos alunos do ITA ficava no Sudeste. Os formados ficavam no Sudeste. Ele começou a pensar que os alunos do ITA deviam conhecer outras partes do Brasil. Então, organizou umas viagens em voos, aviões da Aeronáutica. Os pilotos eram nossos colegas de turma. Em 1971, fomos para a Amazônia, para o Pará, até o Amapá. Em 1972, fomos para Cuiabá, Porto Velho… Rio Branco e Cruzeiro do Sul, no Acre. E também em 1972, [fomos ao] Nordeste: Fortaleza, Salvador, Recife…
Então, essas viagens, de fato, me fizeram pensar muito em Amazônia, em meio ambiente. E eu decidi que eu queria mesmo ficar trabalhando na Amazônia. Naquela época, 1971, 1972, praticamente não tinha desmatamento nenhum. Em 1972, estavam começando a construir a [rodovia] Transamazônica, mas, nessas viagens, a gente não viu desmatamento nenhum. Paramos em várias cidades, andamos de barco, visitamos florestas… olha que maravilha. Então, essas são as minhas melhores lembranças. O esporte, que eu passei 5 anos fazendo, e essas visitas, essas viagens, principalmente para a Amazônia.
Em que momento tomou a decisão de se dedicar aos estudos do clima?
Eu me apaixonei pela Amazônia depois dessas duas viagens, em 1971 e 1972. Quando me formei, em 1974, comecei a ver possibilidades de trabalhar na Amazônia. Não consegui inicialmente. Fui fazer mestrado no INPE, e aí, no segundo semestre, lá em outubro, eu finalmente consegui um amigo do ITA… Conheci o presidente da Academia Brasileira de Ciências. Falei que eu queria muito estudar a Amazônia e ele me colocou em contato com o diretor da época do INPA [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia], doutor Warwick [Estevam Kerr], que era um grande cientista. Eu fui e ele me deu emprego. Naquela época, não era concurso ainda. Nós éramos celetistas, e ele me deu emprego lá para trabalhar como engenheiro.
Apoiando muito, fazia viagens… Tinha um barco de pesquisa, e eu ia muito nas viagens de pesquisa para dar o apoio. Então, ali eu comecei a falar: “Realmente, eu acho que tenho que fazer pesquisa. Eu quero me tornar um cientista, não só um engenheiro”.
E aí surgiu uma oportunidade. Eu me inscrevi para três universidades americanas: Engenharia Ambiental de Berkeley, Meteorologia de Wisconsin e Meteorologia do MIT. Fui aceito nas três, e decidi fazer o doutorado em Meteorologia no MIT. Foi de 1977 a 1982. Então, foi essa a minha história.
De tudo o que já viveu em sua careira, qual foi o momento mais especial?
Bem, em toda a minha carreira, eu já tive momentos muito especiais. Minha mãe teve câncer em 1979. Aí, quando terminei meu doutorado no MIT, vim ficar mais perto dela e consegui um emprego no INPE, em São José dos Campos.
Tive momentos muito especiais na minha carreira, mas eu diria que um momento que eu gosto muito tem muito a ver com a Amazônia. Comecei, ainda pesquisador do INPE, a fazer pesquisas de campo na Amazônia, a partir de agosto de 1983. E depois várias pesquisas com parceiros internacionais, em 1990, numa cooperação, uma parceria com a Inglaterra, fui convidado para ser o coordenador brasileiro de uma pesquisa sobre clima na Amazônia.
E, depois, me tornei o cientista-chefe do maior experimento científico até hoje de floresta tropical, chamado “Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, ou Experimento LBA. Eu ajudei a negociar com vários países: Estados Unidos, cinco países europeus, quase todos os países amazônicos… e no governo federal da época, houve uma dificuldade muito grande. O governo não queria aprovar. Foram quatro anos de negociações, até que, em agosto de 1998, o governo federal aprovou, e fizemos parceria com todos esses parceiros. Começamos esse grande experimento em janeiro de 1999 lá na Amazônia, com muitos sítios.
O Experimento LBA colocou mais de 20 sítios lá de medidas da floresta: como a floresta interage com a atmosfera, como pastagem interage com a atmosfera, como savana tropical serrada interage com a atmosfera… Foi o maior experimento em floresta tropical até hoje. Inúmeros voos. Aviões de pesquisa da NASA, do Reino Unido. Até mesmo o INPE tinha um aviãozinho de pesquisa. Então, foi feito. E o LBA existe até hoje. Ele não tem mais a intensidade daqueles primeiros seis anos, mas ele continua até hoje. Então, eu diria, esse foi um momento muito especial na minha carreira, contribuindo muito para esse maior experimento científico da Amazônia.
De que forma acredita que o ITA contribuiu para que você se tornasse quem é hoje?
O ITA certamente contribuiu muito para a minha carreira. Principalmente os dois anos do ensino fundamental. Eu fui fazer doutorado em Meteorologia no MIT e, se eu tivesse feito Engenharia Mecânica, teria mais facilidade, porque teria estudado mecânica de fluidos e vários outros aspectos. A Engenharia Eletrônica que eu fiz não tinha. Tudo isso eu estudei no MIT. Mas os dois anos fundamentais do ITA, matemática, física, química, todos são muito fortes. Então, essa foi a base. Contribuiu muito para eu ir bem no doutorado.
E, é lógico, o ITA tem uma característica muito humana, que é a gente viver no alojamento, ter um contato muito forte com toda a equipe de alunos. Então, isso é um enorme poder de nos transformar. O ITA gera muito cientista. Por muitos anos… eu não sei hoje, mas naquela época em que eu estudei, a minha turma, de 1974, era a turma com o maior número de doutores. Se não me engano, quase 30 doutores. Então, isso é um aspecto muito importante que o ITA nos fornecia. Um valor muito grande em nos tornarmos cientistas, de desenvolvermos um papel muito importante, melhorarmos o nosso país. Então, esses são aspectos do ITA.
Em quais projetos você está envolvido atualmente?
Eu me aposentei do INPE. Passei 35 anos lá. Também trabalhei no Ministério da Ciência e Tecnologia. Fui secretário de Políticas e Programas de C&T de 2011 a 2014. Depois, de 2015 e até meados de 2016, fui presidente da CAPES. No segundo semestre de 2016, voltei de Brasília para cá e, aí, já estava aposentado.
Depois de 2018, me liguei ao Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Mas aí eu comecei a desenvolver muitos projetos da Amazônia. Eu criei o projeto Terceira Via Amazônica, ou Amazônia 4.0, que é uma tentativa de buscar soluções sustentáveis para a Amazônia. Uma nova bioeconomia dos produtos da biodiversidade, industrialização, agregação de valor. Esse é um projeto em que até já desenvolvemos um laboratório para capacitar populações amazônicas na cadeia do cacau e do cupuaçu. Fazer chocolate, cupulate.
Estamos desenvolvendo agora um projeto chamado Amazônia Rainforest Business School e também, no Amazonia 4.0, nós estamos desenvolvendo um estudo de viabilidade para criar o Instituto de Tecnologia da Amazônia. Isso foi um pouco a inspiração que o ITA me trouxe. Se não fosse o ITA, não teria sido criada a Embraer em 1969. Hoje, o Brasil tem a terceira maior indústria aeronáutica do mundo, que industrializou muito aqui o Vale do Paraíba, principalmente São José dos Campos. Então, eu falei: “Puxa vida, nós precisamos ter na Amazônia um ITA. Um ITA da Amazônia”.
A ideia é essa: Instituto de Tecnologia da Amazônia. Estamos terminando agora, no começo de 2024, um estudo de viabilidade com várias pessoas. É um estudo para o Instituto de Tecnologia da Amazônia Pan-Amazônica. Não é só no Brasil. Vários países amazônicos com vários polos de inovação, innovation hubs, para uma nova bioeconomia. Então, é um pouco do que estou envolvido.
E também, desde 2019, eu sou copresidente do Painel Científico para a Amazônia, uma espécie de IPCC para a Amazônia, e que já fez vários relatórios. Em 2021, na COP26, em Glasgow, lançou o primeiro relatório de avaliação científico mais completo, com 1.300 páginas. E, depois, fizemos vários outros estudos lançados na COP27, na COP28, na Cúpula dos Países Amazônicos. Eu sou ainda co-presidente até 2025, quando teremos a COP30 em Belém. Então, esse é um trabalho importante. O Painel Científico para a Amazônia tem 260 membros, todos cientistas. Dois terços dos países amazônicos. Temos hoje 10 cientistas indígenas também nesse grupo. Então, isso é um pouco dos projetos que tenho desenvolvido atualmente.
A cada conferência do clima, sempre que metas são repactuadas entre as nações, temos a impressão de andar em círculos. Como romper esse ciclo?
Tivemos metas muito disruptivas na COP-21, em 2015, em Paris. Essa COP foi ambiciosa e disse que nós temos que realmente não aumentar as emissões do gás do efeito de estufa para que a temperatura aumente acima de dois graus. O ideal é que ela não passe de um grau e meio. Depois, na COP-26, em 2021, em Glasgow, se percebeu que, mesmo passando de um grau e meio é muito perigoso. Se chegar a dois graus, por exemplo, há um monte de riscos para o planeta. Um deles, por exemplo: com dois graus, desapareceriam praticamente todas as espécies de recifes de corais. Então, foi dito: não podemos passar de um grau e meio. E, para isso, precisamos reduzir as emissões em quase 50% até 2030, o maior desafio que a humanidade já enfrentou, e zerar até 2050. Nós não estamos indo nessa direção.
A COP-27, no Egito, ano passado, olhando o que todos os países se comprometeram… cada país é voluntário para dizer: “Olha, eu vou reduzir as emissões nessa velocidade. Tanto até 2030, até 2040, 2050”. E quando a gente pega as metas que os países colocaram no Egito, um ano atrás, o planeta aqueceria entre 2,4 e 2,6 graus até meados do século. Quase 70% das emissões de gases do efeito estufa vem da queima de combustíveis fósseis. E não há, pelo setor dos combustíveis fósseis, um compromisso de atender essas dificílimas metas, que são reduzir em 50% até 2030 e zerar até 2050.
Então, não é fácil romper esse ciclo. É muito difícil, muito difícil, mas precisamos romper. Porque, se a temperatura aumentar entre 2,4 e 2,6 graus, nós temos um enorme risco de perder grande parte da Floresta Amazônica… degelar o solo congelado lá na Sibéria, no Canadá, no Alasca, liberando uma quantidade gigantesca de gases de efeito estufa. Perdendo a Amazônia, também, nós vamos jogar uma grande quantidade [de gases na atmosfera]. Vai ter a maior extinção de espécies desde que existem humanos no planeta. Então, tudo isso é um enorme risco, e nós temos que romper esse ciclo. Um grande desafio.
Que recado gostaria de deixar aos estudantes que sonham em trilhar o seu caminho nos estudos do clima?
É muito importante que nós busquemos soluções. Por exemplo: nós precisamos dar muita escala. Então, engenheiros do ITA que queiram terão muito espaço. Nós temos que dar muita escala para as energias renováveis. Hoje, as tecnologias já tornaram bastante factível a energia dos painéis solares fotovoltaicos, da energia eólica…
Agora, começa cada vez mais a se desenvolver o hidrogênio verde, o hidrogênio que é feito pela eletrólise da água. Tem quase zero de emissões de gases de efeito estufa. Então, tem muito papel para a Engenharia, para engenheiro, para engenheira, para dar escala, né? Hoje, as energias renováveis já são bem mais baratas. A solar e a eólica, por exemplo, [são mais baratas] do que termelétricas, combustíveis fósseis. Mas a escala, a velocidade com que nós estamos migrando para essas novas energias está muito lenta para segurar o limite, para não deixar a temperatura passar de um grau e meio.
E há também muito trabalho para nós, aqui no Brasil. Nós temos que desenvolver uma nova bioeconomia. A gente chama de Sociobioeconomia de Floresta em Pé. Nós temos a maior biodiversidade do planeta. Então, nós temos um trabalho muito grande de várias formas de engenharia, várias formas de física, de química, de biologia, de ciências sociais e de inovações tecnológicas para desenvolver essa nova bioeconomia, essa sociobioeconomia. Inclusive, pela primeira vez na história, valorizando muito o conhecimento dos povos indígenas, comunidades locais. Por exemplo: os indígenas vivem na Amazônia há 12 mil anos, já utilizaram mais de 2.000 produtos da biodiversidade e nós aprendemos muito pouco com eles.
Então, esses são grandes desafios que eu considero que todos devem caminhar para buscar soluções. Lógico, muitos cientistas, como eu, podem decidir serem cientistas da área climática e, sim, há muito espaço ainda para se aperfeiçoar muito o nosso conhecimento sobre o clima, principalmente. Quais são os riscos, quando nós podemos cruzar esses pontos de não retorno… Então, também há muito espaço para cientistas climáticos.
* Fotos: Arquivo pessoal / David Vilela Uba