Minha História com a ITAEx | Lucas Guimarães – Do Projeto AeroDesign ITA à Startup AeroRiver: Como a Vivência no ITA Impulsionou o Volitan

Alguns sonhos começam pequenos, mas carregam a força de mudar realidades inteiras. Quando alguém acredita que pode transformar a vida das pessoas ao seu redor — especialmente na comunidade onde nasceu — esse sonho ganha propósito e direção. Foi assim com Lucas Guimarães, um jovem amazonense que enxergou na engenharia não apenas um futuro para si, mas uma chance real de contribuir com soluções para os desafios da região onde cresceu. Sua trajetória até o Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA é uma história de persistência, reinvenção e compromisso com um sonho maior: usar o conhecimento para impactar vidas.

Desde o nono ano, Lucas já tinha um objetivo claro: estudar no ITA. Sem acesso aos cursinhos especializados, traçou um caminho alternativo — ingressou em Engenharia Mecânica na Universidade Estadual do Amazonas (UEA), preparou-se por conta própria e, em 2018, alcançou seu sonho ao ser aprovado no mestrado do ITA.

Foi lá que encontrou, no AeroDesign ITA, muito mais do que um projeto acadêmico; descobriu uma verdadeira escola de liderança, engenharia aplicada e trabalho em equipe. Com o apoio da ITAEx, liderou a equipe em meio a desafios técnicos e humanos, amadurecendo a visão que mais tarde daria origem à AeroRiver — startup que desenvolve o Volitan, um veículo de efeito solo projetado para atender às necessidades da região amazônica.

Nesta entrevista, Lucas compartilha os aprendizados que moldaram sua trajetória, destaca a importância do apoio da ITAEx a iniciativas estudantis. As experiências vividas dentro do campus se transformaram em soluções inovadoras com impacto nacional — e potencial para revolucionar a mobilidade no Brasil.

Acompanhe a entrevista abaixo.

 

INÍCIO DA JORNADA

ITAEx – Lucas, o que te motivou a escolher o ITA para essa etapa (pós graduação) da sua formação?
Lucas Guimarães – Desde o nono ano do ensino fundamental, eu já sabia que queria estudar no ITA. Tudo começou quando um professor apresentou, em sala de aula, as instituições brasileiras voltadas para a área aeronáutica — e entre elas estava o ITA. Naquele momento, algo despertou em mim: desde pequeno eu já me interessava por engenharia, especialmente por tudo que voa, e ali nasceu o sonho de seguir esse caminho.
A partir daí, tracei um plano para chegar até lá. Sabia que o vestibular para a graduação era extremamente difícil e cheguei a tentar uma vez. Mas logo percebi que, para ser aprovado, eu precisaria de um cursinho especializado — e infelizmente, na época, não havia nenhum em Manaus, e minha família não tinha condições financeiras para me mandar para outro estado.
Foi então que decidi seguir por uma rota alternativa: entrei no curso de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), a formação mais próxima da engenharia aeronáutica disponível para mim, e comecei a me preparar por conta própria para o mestrado no ITA.
Segui esse plano com dedicação e, em 2018, realizei meu sonho: fui aprovado na pós-graduação do ITA.

ITAEx – Como foi sua primeira impressão ao entrar no ambiente do ITA e do DCTA?
Lucas Guimarães – Eu já tinha visitado o DCTA e o ITA algumas outras vezes, enquanto eu ainda estava na graduação porque eu fazia parte da equipe de aerodesign da minha faculdade em Manaus.
O ambiente do DCTA sempre me impressionou, toda a infraestrutura instalada, os lagos, a paisagem e aquele ar sempre de tranquilidade. Tudo isso sempre me impressionou e fez querer passar a maior quantidade de horas possíveis ali dentro.

O ENCONTRO COM O AERODESIGN ITA

ITAEx – Em que momento você conheceu a iniciativa acadêmica Aerodesign ITA e como foi sua entrada no projeto?
Lucas Guimarães – Eu já conhecia o AeroDesign ITA desde a época da minha graduação na UEA. Lá, eu participava da competição de aerodesign e, em 2017, tivemos a oportunidade de enfrentar a equipe do ITA. Naquele ano, ficamos em terceiro lugar — e o ITA terminou em uma colocação abaixo da nossa. Foi um momento marcante e me deixou ainda mais curioso sobre como funcionava a equipe deles por dentro. Quando iniciei no mestrado, a entrada no AeroDesign ITA foi quase natural. Logo no início do curso, eu e o Felipe Bortolete conhecemos uma turma de graduação que fazia parte da equipe. Eles nos convidaram para ajudar em alguns projetos, e com o tempo, acabamos sendo efetivados. Foi o início de uma nova fase — agora dentro da equipe que eu admirava de longe durante a graduação.

ITAEx – Você chegou a ser capitão da equipe. Que aprendizados técnicos e pessoais essa experiência trouxe?
Lucas Guimarães – Em 2019, assumi como capitão do AeroDesign ITA. A então capitã Juliana Cristina Cortez Baraúna (T21) havia sido selecionada para um intercâmbio na França e, com sua saída temporária, acabei ficando à frente da equipe. Felizmente, ela já havia feito um excelente trabalho de estruturação, o que deixou muitos processos bem organizados.
Ainda assim, acredito que meu maior aprendizado naquele período foi sobre trabalho em equipe — especialmente sobre lidar com perfis diferentes e equilibrar egos. A equipe de 2019 era composta por vários alunos da pós-graduação que, assim como eu, já tinham participado do AeroDesign ITA em outras universidades e, em muitos casos, já haviam sido capitães. Ou seja, era um time repleto de líderes experientes.
Liderar um grupo tão qualificado exigiu escuta ativa, empatia e bastante jogo de cintura. Fazer com que todos se sentissem ouvidos e, ao mesmo tempo, construir uma equipe coesa e alinhada foi, sem dúvida, o maior desafio — e também a experiência que mais me fez crescer como líder.

ITAEx – Qual foi a importância da colaboração com outros alunos da pós e da graduação dentro da equipe?
Lucas Guimarães – Depois de superar os desafios iniciais de convivência e alinhamento, conseguimos nos tornar um time realmente forte — o que eu gosto de chamar de dream team. Sempre tive afinidade com essa tarefa de formar equipes e buscar extrair o melhor de cada integrante, e no AeroDesign ITA isso se tornou mais natural, porque todos ali eram, de fato, muito bons no que faziam. A partir daí, o foco passou a ser mais uma questão de gestão de tempo e alinhamento de agendas, já que todos também estavam ocupados com as exigências do curso. Mas, mesmo com essas limitações, conseguimos manter o ritmo e alcançar nossos objetivos. Fomos campeões nacionais e conquistamos a vaga para disputar a competição internacional nos Estados Unidos.
Lá, ficamos em sétimo lugar — um resultado que, à primeira vista, pode parecer abaixo do esperado, mas que, para nós, representou uma vitória. Voltamos com a sensação de missão cumprida e, principalmente, como um time unido, maduro e orgulhoso do caminho que trilhamos juntos.

Os sócios da AeroRiver: Lucas Guimarães, Túlio Duarte e Felipe Bortolete (da esquerda para a direita)


DA INICIATIVA ACADÊMICA À CRIAÇÃO DA AERORIVER

ITAEx – Como surgiu a ideia de criar a AeroRiver? A vivência no ITA e no AeroDesign teve influência direta nesse caminho?
Lucas Guimarães – Sem dúvida, o ITA teve uma influência enorme na minha trajetória — não apenas pelo conhecimento técnico, mas principalmente pelas conexões e experiências que vivi ali.
E se tem uma pessoa que esteve comigo em absolutamente todas essas etapas, foi o Felipe Bortolete.  Ele é mais que um amigo, é meu parceiro de jornada desde os tempos da graduação na UEA, em Manaus. Nós dois éramos da equipe Urutau Aerodesign, viemos juntos para o ITA, fizemos o mestrado lado a lado e agora seguimos juntos no doutorado. Ele é cofundador da AeroRiver comigo, e a verdade é que nada disso teria acontecido sem essa caminhada conjunta.
No fim do nosso mestrado, recebemos uma ligação do Túlio Duarte, um amigo em comum que ficou em Manaus. Ele nos parabenizou e falou algo que nos marcou profundamente: “Tá na hora de pegar tudo o que vocês aprenderam aí e usar para resolver o maior problema da nossa região.”
Foi essa conversa que plantou a semente da AeroRiver — uma iniciativa que une propósito, conhecimento técnico e nossas raízes amazônicas para criar soluções reais para os desafios da nossa região.

ITAEx – De que maneira os conhecimentos adquiridos na pós-graduação e nos projetos extracurriculares do ITA foram aplicados no desenvolvimento do Volitan?
Lucas Guimarães – Em muitos sentidos, acredito que o AeroDesign ITA foi a maior escola que tive. Foi ali que aprendi, na prática, o valor do trabalho em equipe, da persistência e, claro, da boa engenharia. Grande parte do que aplicamos no início da AeroRiver veio diretamente das experiências vividas naquela equipe. Inclusive, trouxemos para a empresa três pessoas que também fizeram parte do AeroDesign — o que mostra o quanto aquele ambiente formou não só engenheiros competentes, mas também parceiros de confiança. A AeroRiver foi instalada na Incubaero, dentro do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial – DCTA, entre 2021 e 2025. Foi uma fase fundamental para o nosso crescimento. Estar naquele ambiente tecnológico, cercado pela cultura de inovação do ITA e com acesso a uma infraestrutura de ponta, nos permitiu minimizar custos operacionais e concentrar esforços no que realmente importava: desenvolver uma solução robusta e adaptada à realidade amazônica. Além disso, a convivência com outras iniciativas empreendedoras do setor aeroespacial ajudou a moldar nossa cultura como empresa.
Atualmente, estamos no condomínio HGLG, em São José dos Campos, e vivemos uma nova fase. A mudança trouxe novos desafios, especialmente em termos de logística e operação, mas também abriu espaço para amadurecimento e expansão. Estamos adaptando a estrutura e os processos para essa nova realidade, mantendo o foco no nosso propósito: transformar a mobilidade na Amazônia de forma segura, eficiente e sustentável.

A RELAÇÃO COM A ITAEx

ITAEx – Qual foi o papel da ITAEx no apoio ao AeroDesign ITA durante o seu período na equipe e como esse suporte impactou sua formação técnica e empreendedora?
Lucas Guimarães – A ITAEx teve um papel fundamental. Na época em que participei do AeroDesign ITA, ela era responsável por 100% dos custos do projeto. Isso fez toda a diferença, porque permitiu que a gente focasse exclusivamente no desenvolvimento técnico, na gestão da equipe e na competição, sem precisar correr atrás de patrocínio.
Essa experiência contrastou muito com a que eu tive em Manaus, na Urutau AeroDesign, onde boa parte do nosso tempo era consumida tentando levantar recursos. Lá, isso nos afastava do foco principal, que era projetar e construir o avião. Já no ITA, com o apoio da ITAEx, conseguimos dedicar mais tempo à engenharia de verdade e à construção de um time coeso.
Além disso, toda a estrutura e responsabilidade de gerir os recursos repassados nos ensinou muito. Foi um aprendizado técnico e de gestão que levamos diretamente para a fundação da AeroRiver. Muitos dos nossos primeiros passos como empreendedores foram inspirados nas lições tiradas do AeroDesign ITA — e isso só foi possível porque havia uma base sólida de apoio por trás.

ITAEx – Pensando na sua trajetória, que mensagem você deixaria para quem hoje participa de iniciativas acadêmicas do ITA apoiadas pela ITAEx?
Lucas Guimarães – Em primeiro lugar, valorizem o apoio que a ITAEx oferece. Já participei de uma equipe que não contava com nenhuma ajuda e sei como é difícil tocar um projeto técnico enquanto você precisa buscar patrocínio e equilibrar isso com outras responsabilidades.
Em segundo lugar, aproveitem ao máximo cada momento dentro das iniciativas. As maiores lições que carrego comigo — sobre trabalho em equipe, liderança, tomada de decisão sob pressão — vieram dessas experiências, não da sala de aula. É nesse ambiente prático, dinâmico e cheio de desafios que a gente realmente se prepara para a vida profissional e até mesmo para empreender no futuro.

INOVAÇÃO, AMAZÔNIA E FUTURO

ITAEx – O Volitan representa uma verdadeira revolução logística para a Amazônia. Como é, para você, ver um projeto com DNA do ITA ser abraçado por programas como a Finep e até reconhecido pelo Presidente da República? E quais são os próximos passos da AeroRiver nesse caminho?

Lucas Guimarães – Sabemos que ainda temos uma longa jornada pela frente até alcançar o sucesso pleno, mas também aprendemos a valorizar cada conquista do caminho. Ver o nome da AeroRiver na lista de aprovados da FINEP foi uma sensação incrível — uma confirmação de que estamos no rumo certo, de que nosso trabalho tem valor e impacto real. Mais do que isso, significou avançar mais uma etapa rumo à construção do nosso primeiro veículo em escala real, o Volitan.

No lançamento oficial da Missão 3 da Nova Indústria Brasil. Mais do que recursos financeiros, o apoio da Finep representa confiança no projeto do Volitan e no impacto que ele pode gerar para a mobilidade na Amazônia

É claro que esse tipo de apoio traz também uma grande responsabilidade. Agora, o nosso compromisso não é só com investidores ou parceiros, mas com o Brasil. Precisamos entregar resultados dentro dos prazos, seguindo tudo o que foi proposto no projeto, com transparência e excelência. O reconhecimento, inclusive pelo Presidente da República, reforça ainda mais o peso do que estamos construindo.
O próximo grande passo é justamente esse: concluir a construção do Volitan em escala real. A previsão é de que ele fique pronto ainda este ano para os primeiros voos. Acreditamos profundamente no potencial desse projeto para transformar a mobilidade na região amazônica. Enquanto em outras partes do Brasil é comum se deslocar por terra, na Amazônia isso ainda é um desafio diário. Nosso objetivo é oferecer uma alternativa de transporte rápido, seguro e acessível — uma solução pensada para atender às necessidades reais da população ribeirinha e contribuir com o desenvolvimento sustentável da região.

FINANCIAMENTO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

ITAEx – A Finep investiu R$ 10 milhões no projeto, dentro do programa Nova Indústria Brasil. Como foi o processo para obter esse apoio e o que ele representa para a AeroRiver?
Lucas Guimarães – Esse investimento veio na forma de subvenção econômica, ou seja, não é um empréstimo e não precisa ser devolvido. É um recurso direto para a empresa, com o objetivo de fomentar inovação — e isso faz toda a diferença para uma startup como a nossa.
Para conquistá-lo, participamos de uma chamada pública dentro do edital de Aviação Sustentável, parte do programa Nova Indústria Brasil. Escrevemos um projeto detalhado, apresentando tanto a proposta técnica quanto o potencial de impacto do Volitan. Passamos por um processo rigoroso de avaliação, e o resultado da aprovação saiu logo depois do da Embraer — o que nos deixou especialmente orgulhosos. Estar lado a lado com uma empresa desse porte reforça a relevância do que estamos construindo.
Esse apoio da Finep é um marco para a AeroRiver. Ele está viabilizando a construção do nosso primeiro veículo em escala real, permitindo também que a gente amplie a equipe e se mude para uma sede maior, mais adequada às necessidades dessa nova fase. Mais do que recursos financeiros, esse investimento representa confiança no nosso projeto e no impacto que ele pode gerar para a mobilidade na Amazônia.

ITAEx – O primeiro protótipo em escala real está previsto para 2026. Em que estágio o Volitan está atualmente e quais os principais desafios tecnológicos até lá?
Lucas Guimarães – Neste ano de 2025, estamos dando um passo decisivo: a construção do nosso primeiro veículo em escala real. Ele será uma versão menor, com capacidade para até quatro pessoas, e os primeiros voos estão previstos ainda para este ano. Essa etapa vai nos permitir validar soluções técnicas e operacionais antes de partirmos para o Volitan, que terá capacidade para dez pessoas e deve começar a ser construído já no ano que vem.

O Volitan tem potencial de uso muito além da Amazônia

O Volitan se inspira nos antigos ekranoplanos soviéticos, que utilizavam o efeito solo para voar rente à superfície da água com grande eficiência. No entanto, adaptar esse conceito para a realidade da Amazônia exigiu uma série de inovações. Diferentemente do uso original — em mares abertos, onde o trajeto é praticamente retilíneo —, aqui lidamos com rios sinuosos, estreitos e com margens irregulares. Isso exigiu o redesenho completo do sistema de controle e da aerodinâmica da aeronave, garantindo manobrabilidade suficiente para contornar curvas com segurança.
Essa adaptação representa uma verdadeira inovação brasileira: estamos pegando um conceito consolidado e reinterpretando com base em um desafio local. O resultado é uma solução pensada para a Amazônia — eficiente, segura e viável — que pode, inclusive, inspirar novas aplicações em outras regiões com características semelhantes.

PARCERIAS ESTRATÉGICAS E APLICAÇÕES REAIS

ITAEx – A Bemol, maior rede varejista de Manaus, já manifestou interesse formal no Volitan e se tornou investidora do projeto. Como essa parceria surgiu e qual tem sido a importância dela para a validação do trabalho de vocês? E como tem sido o diálogo com outras empresas e entidades governamentais interessadas nessa tecnologia?
Lucas Guimarães – Os diretores da Bemol foram os nossos primeiros investidores, e isso teve um impacto enorme. Foi graças a esse apoio inicial que conseguimos tirar o projeto do papel e construir nosso primeiro veículo em subescala. Eles apostaram na ideia desde o início, antes mesmo de termos resultados concretos — e isso nos deu a confiança e os recursos para acelerar a jornada.
Além do investimento, o fato de termos os diretores da Bemol como sócios sempre funcionou como uma chancela de credibilidade. Em uma região onde o ecossistema de inovação ainda está em construção, ter o apoio de uma empresa tão sólida e respeitada mostra que estamos fazendo algo sério, com potencial real de transformar a logística na Amazônia.
Quanto ao diálogo com outras empresas e órgãos governamentais, tem sido muito positivo. Existe uma demanda real — e reprimida — por soluções logísticas mais eficientes na região. Todo mundo, de alguma forma, sente os impactos da falta de infraestrutura de transporte. Por isso, quando apresentamos o Volitan, a reação costuma ser de entusiasmo e apoio. Estamos oferecendo uma solução prática para um problema que afeta comunidades inteiras, e isso tem gerado conversas promissoras com diversos setores.

ESCALABILIDADE E VISÃO DE FUTURO

ITAEx – Apesar de ter nascido com foco na Amazônia, o Volitan já desperta interesse em outras regiões do Brasil e até do exterior. Como vocês enxergam o potencial de uso desse veículo em novos contextos? E como veem o papel da AeroRiver dentro desse movimento de reindustrialização do País, impulsionado por programas como o Nova Indústria Brasil?
Lucas Guimarães – Com certeza, o Volitan tem potencial de uso muito além da Amazônia. A proposta de um veículo de efeito solo, eficiente e de baixo custo, pode ser aplicada em operações costeiras em todo o mundo. Hoje, já estamos em conversa com empresas de outras regiões do Brasil, e sabemos que, à medida que o projeto avançar, o mercado tende a crescer muito.

Inclusive, um exemplo que costumo dar é a rota Rio de Janeiro – Santos, que seria perfeitamente viável com o Volitan. Nosso projeto já está sendo pensado desde o início para também operar no mar, então, tecnicamente, não há grandes adaptações necessárias. O que precisaremos, nesse caso, é trabalhar junto à Marinha para entender e atender às regulamentações específicas para esse tipo de operação em águas costeiras.

Quanto ao papel da AeroRiver na reindustrialização do País, nosso foco sempre foi muito claro: resolver um problema logístico real da região amazônica. Tudo o que vier como consequência desse trabalho — seja reconhecimento, expansão para outras regiões ou até nos tornarmos um símbolo do movimento Nova Indústria Brasil — será fruto direto do nosso esforço e da nossa visão.
Se isso acontecer, será um orgulho enorme mostrar que uma empresa nascida no Amazonas, com tecnologia desenvolvida no Brasil, pode ter um papel relevante na construção de um novo futuro industrial para o País.

 

ITAEx – Por fim, olhando para trás, qual o maior legado que o ITA – e especificamente sua vivência com o Aerodesign e o apoio da ITAEx – deixou na sua trajetória pessoal e profissional?
Lucas Guimarães – Estudar no ITA foi um sonho que me acompanhou desde muito cedo, e esse sonho guiou várias das minhas escolhas ao longo da vida — desde a graduação em Engenharia Mecânica na UEA até minha entrada na equipe de Aerodesign ainda lá em Manaus.
Olhando para trás, vejo uma trajetória cheia de desafios e momentos de dúvida, mas também de muita persistência. Continuar tentando, mesmo quando parecia difícil, sempre foi a escolha — e isso moldou quem eu sou hoje. Acredito que essa caminhada me ensinou a ser perseverante, paciente e a acreditar no processo. São características essenciais para o empreendedorismo, mas também para qualquer jornada de longo prazo.
Tive a sorte de trilhar esse caminho ao lado do meu amigo e sócio Felipe, que esteve comigo desde os tempos de UEA. Juntos, vivemos os aprendizados dentro e fora da sala de aula — e muitos deles vieram da experiência no AeroDesign ITA, onde aprendemos na prática o que significa trabalhar em equipe, liderar, errar, ajustar e seguir em frente.

   
Foto 1 – No SAE AeroDesign East – equipe do ITA após ganhar a competição nacional 
Foto 2 – Lucas como capitão da AeroDesign ITA | 2018
Foto 3 – Comemoração da equipe AeroDesign ITA pelo título nacional em 2019

Tecnicamente, o ITA é incomparável — me ensinou coisas que eu dificilmente teria aprendido em outro lugar. Mas, se eu pudesse destacar um legado maior, ele está na convivência com as pessoas e na cultura que o ITA promove.

A Disciplina Consciente, o esforço coletivo e a busca constante por excelência são valores que levo comigo para sempre. E o apoio da ITAEx foi essencial para tornar tudo isso possível — ajudando a transformar o sonho em realidade, e o conhecimento em ação.

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