Da eletrônica à liderança estratégica: a jornada de Jorge Ramos (T81), moldada pelo conhecimento, curiosidade e inovação

Apaixonado por eletrônica desde a adolescência e influenciado pelo ambiente técnico de São José dos Campos, Jorge Ramos (T81) trilhou um caminho sólido e transformador: formação em Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, e mais de 30 anos de contribuição à Embraer em áreas de alta complexidade tecnológica.
Hoje, como CEO da Idea Maker, Jorge Ramos aplica com excelência a visão sistêmica e a paixão por soluções inovadoras — traços marcantes de sua formação e carreira.
Nesta entrevista para a categoria Iteanos de Destaque, ele reflete sobre os aprendizados que atravessam décadas de atuação, e como os valores do ITA seguem presentes em cada desafio.
Boa leitura!

FORMAÇÃO E INÍCIO DA CARREIRA

ITAEx – O que motivou sua escolha pelo ITA? E de que forma sua vivência como aluno moldou sua forma de pensar e trabalhar?
Jorge Ramos – Eu me mudei para São José dos Campos com oito meses de idade e durante minha adolescência sempre ouvia ótimos comentários a respeito do ITA. Minha paixão por eletrônica me levou a fazer uma escola técnica, a ETEP, que tinha vários professores que eram alunos ou ex-alunos do ITA. Acabou sendo uma escolha natural e ao terminar o curso técnico eu ingressei no ITA.
Cursar o ITA me ajudou a consolidar algo que já havia iniciado na ETEP: “aprender a aprender”. Ou seja, o estímulo à curiosidade, à criatividade, o nível de exigência, a frequência das cobranças e o convívio com pessoas muito inteligentes me levaram a desenvolver uma metodologia de aprendizado que fosse eficaz e eficiente neste contexto.
Obviamente isto foi um grande aprendizado para a minha vida tanto pessoal como profissional, e me ajudou a encarar com naturalidade e determinação qualquer tipo de desafio.

ITAEx – Após a graduação em Engenharia Eletrônica pelo ITA, o senhor atuou como pesquisador no INPE. Como foi essa experiência e que aprendizados desse período levou para a carreira?
Jorge Ramos – Ao longo da graduação desenvolvi uma paixão por projeto e desenvolvimento de dispositivos eletrônicos. Ao chegar ao final do 5º ano, porém, percebi que naquele momento não haveria muitas oportunidades de trabalho nesta área no Brasil. Decidi, então, investir na área de desenvolvimento de software (SW), visando atuar na área de pesquisa. O Inpe estava contratando para o programa do primeiro satélite brasileiro e fiquei muito interessado na oportunidade. Iniciei, então, o mestrado em sistemas digitais, com ênfase em desenvolvimento de SW.
O Inpe sempre foi reconhecido pela excelência de suas pesquisas e de seu programa de mestrado e doutorado, e me ajudou a consolidar a formação profissional na área de pesquisa e desenvolvimento. Gerou um ativo que me ajudou muito em toda a minha carreira.

TRAJETÓRIA NA EMBRAER

ITAEx – De sua bem-sucedida trajetória de mais de 30 anos na Embraer, quais momentos foram mais marcantes?
Jorge Ramos – O setor aeronáutico, assim como o espacial, é extremamente complexo e de alta intensidade tecnológica, e por isso muito atrativo para quem quer se realizar com pesquisa e desenvolvimento. Quando surgiu a oportunidade de participar do desenvolvimento do SW embarcado da aeronave AM-X, não titubeei em entrar na Embraer – uma empresa apaixonante, com inúmeras oportunidades e sempre disposta a investir nas pessoas e em novos produtos e processos.
Não há como uma empresa sobreviver neste setor sem inovar continuamente nas mais diversas áreas, o que faz todos que ali trabalham “respirar” inovação e tecnologia.
O desafio de desenvolver o SW de missão do AM-X sem dúvida foi um momento marcante para mim, mas eu diria que em toda a minha trajetória na Embraer me deparei com inúmeros desafios, em diversas áreas, que marcaram fortemente a minha vida profissional, sendo difícil elencar quais foram mais marcantes.

Jorge Ramos na Feira da Aviação Le Bourget – França


ITAEx – Quando passou a liderar áreas ligadas à gestão de produtos e tecnologias, o que aprendeu nessa transição da engenharia para a liderança estratégica?
Jorge Ramos – Este é um ponto interessante. Quando me formei tinha muito receio de atuar na área administrativa e acabar me distanciando daquilo que eu mais gostava, que era pesquisa e desenvolvimento.
Após seis anos de empresa, trabalhando no desenvolvimento de SW e de sistemas embarcados, surgiu a primeira oportunidade de ir para a área de gestão. O que me atraiu nesta oportunidade foi a possibilidade de participar e contribuir, ainda que sem a “mão na massa”, de uma quantidade muito maior de desafios e em tecnologias muito diferentes. Foi quando eu descobri que o gestor se realiza através de seu time e de forma muito mais prazerosa, pois o impacto no produto é muito maior. Nunca mais deixei a área de gestão.

ITAEx – Como diretor de Desenvolvimento Tecnológico, responsável por garantir a atualização contínua da Embraer, qual era o maior desafio em uma indústria de inovação crítica como a aeroespacial?
Jorge Ramos – O desenvolvimento de novas tecnologias para a aplicação aeronáutica é um processo longo e requer muito investimento. É necessário, portanto, um planejamento estratégico robusto e eficaz, visando estabelecer as tecnologias que serão essenciais para o sucesso das aeronaves que entrarão em operação em cerca de 15 anos à frente.
As inovações de maior impacto em uma empresa nem sempre são tecnológicas, mas não há dúvida que novas tecnologias sempre permitem inovações relevantes. Daí a necessidade de sempre investir em novas tecnologias.
O maior desafio era conseguir viabilizar a execução, no prazo esperado, de todos os projetos definidos como essenciais para a competitividade dos produtos. Para isso, contávamos com inúmeras parcerias de empresas e de instituições de pesquisa de vários países. Precisávamos atingir a maturidade necessária destas tecnologias de forma a explorar as janelas de oportunidade de nossos produtos.

VIRADA PARA A TECNOLOGIA E O EMPREENDEDORISMO

ITAEx – Após a saída da Embraer, o senhor assumiu o desafio de estruturar a governança de uma startup. Como foi essa transição e o que mais o atraiu nesse novo ciclo profissional?
Jorge Ramos – Quando ocupei a posição de presidente da Embraer para Europa, Oriente Médio e África, decidi buscar uma formação mais sólida em gestão corporativa, obtendo o certificado pelo INSEAD – Instituto Europeu de Administração de Empresas – em 2017. Durante a formação me identifiquei bastante com os desafios enfrentados em empresas com estrutura familiar.
Ao sair da Embraer em 2020, decidi atuar como consultor nesta área e a primeira oportunidade foi a startup Idea Maker onde, após estabelecer toda a estrutura de governança, fui convidado para assumir a posição de CEO e de presidente do Conselho de Administração.

ITAEx – Durante sua passagem pela Atech, o senhor teve a oportunidade de liderar um negócio com autonomia, consolidando sua visão de gestão e governança. Quais aprendizados dessa fase leva consigo até hoje, especialmente na condução da Idea Maker?

Jorge Ramos – Quando a Embraer adquiriu a Atech S.A. ela tinha sido recentemente criada como uma spin-off da Fundação Atech. E quando eu entrei tínhamos o grande desafio de estabelecer gestão e governança alinhadas com as da Embraer. Ao mesmo tempo, não podíamos deixar isto ser um peso para a operação da empresa. Este aprendizado foi muito importante tanto pela experiência de como fazer, quanto pelo desenvolvimento da sensibilidade da dose correta das políticas, normas e controles.

Jorge Ramos atuou como CEO da Atech – empresa brasileira especializada em sistemas tecnológicos e pertencente ao grupo Embraer

 

Em 2014 | Atech – Assinatura do contrato de exportação do SkyFlow AFTM para a Índia


ITAEx – Na liderança da Idea Maker, uma empresa de soluções digitais em meios de pagamento e filantropia premiável, que valores e competências da sua formação como engenheiro permanecem essenciais no seu trabalho atual?
Jorge Ramos – O pensamento sistêmico, a visão estruturada e o pensamento analítico são competências da engenharia muito úteis a qualquer atividade de gestão. Mas eu diria que a paixão por criatividade e concepção de novas soluções são valores que trago da engenharia e que são essenciais para gerenciar uma fintech.

Lançamento de voos com biocombustível na rota Oslo – Amsterdam com Embraer 190
Na foto, Jorge Ramos com Boet Kreiken – Managing Director KLM Cityhopper


ITAEx – A Idea Maker prevê R$ 1 bilhão em transações em 2025, e atua com soluções digitais voltadas para e-commerce de produtos com venda incentivada, meios de pagamento e gestão e transação de dados. Como enxerga os caminhos futuros da empresa?
Jorge Ramos – Ao longo da trajetória de 14 anos, a Idea Maker consolidou competências que a diferenciam nos seus nichos de atuação.
Nós entregamos mais do que apenas soluções. Criamos e disponibilizamos serviços totalmente personalizados para nossos clientes e usuários, com o propósito de fornecer a maior qualidade e otimização de processos.
Nossas soluções são modulares e orientadas a serviço. Isso nos permite reagir rapidamente a uma nova necessidade de mercado e oferecer uma solução ágil, robusta e eficiente, sempre aderente às regulamentações existentes e sob uma governança sólida. Além de ágil e inovadora, a Idea Maker é autorizada pelo Banco Central a atuar como instituição de pagamento, na modalidade de emissor de moeda eletrônica, e mantém as certificações ISO 27001, 27701, 37001 e 37301.
O futuro é promissor pois há uma demanda crescente de serviços robustos e inovadores nestas áreas. Buscamos sempre sermos os primeiros a introduzir as novas tecnologias, oferecendo escalabilidade instantânea e uma experiência contínua, com altíssima disponibilidade. Em fevereiro de 2021 fomos uma das primeiras plataformas a oferecer o PIX como meio de pagamento, hoje responsável por mais de 80% das nossas transações.

Visita do Rei e da Rainha da Holanda à OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal
Na foto, Jorge Ramos, Marco Tulio Pelegrino (CEO da OGMA), Rainha Máxima Zorreguieta Cerruti e Rei Willem-Alexander Claus George Ferdinand

 

ITAEx – Como a experiência de ter atuado em grandes sistemas complexos, como os do setor aeroespacial, contribui hoje para a criação de plataformas digitais robustas e reguladas, como as da Idea Maker?
Jorge Ramos – Na verdade, as plataformas e soluções da Idea Maker foram criadas por componentes da equipe, que não tiveram a oportunidade de vivenciar este tipo de experiência. Então, sob o ponto de vista técnico, não posso dizer que a minha experiência contribuiu sobremaneira. No entanto, ajuda muito no estabelecimento da governança adequada para manter a excelência nestes produtos e serviços, seja por meio de processos eficazes, de uma gestão de risco sob medida, de um planejamento estratégico desafiador, ou da seleção e da formação de uma equipe altamente qualificada.

VALORES, RETRIBUIÇÃO E LEGADO

ITAEx – ⁠O ITA formou boa parte da base técnica e analítica que aplica até hoje. Como retribui ao Instituto essa formação de excelência?
Jorge Ramos – Primeiramente dando crédito ao ITA por toda a minha história profissional e o quanto me ajudou a explorar as oportunidades além, é claro, da Embraer. Depois, compartilhando com as novas gerações os valores e as crenças que acabam estimulando a criatividade, a excelência e o respeito profissional.
Por último, gerando o melhor valor possível ao nosso País. Acredito que este seja o grande objetivo das melhores instituições públicas de ensino.

ITAEx – Como a Disciplina Consciente ressoou na sua experiência como aluno e, mais tarde, como gestor de equipes e organizações?
Jorge Ramos – Eu acredito muito no valor de um ambiente centrado na confiança. Não há como ter agilidade sem uma gestão focada mais na inspiração e menos no controle. A autonomia e a responsabilidade precisam permear toda a equipe, e a Disciplina Consciente é um conceito básico neste ambiente.
Além disso, eu sempre acreditei que o aprendizado era mais importante do que passar nos exames. É isso que levamos de valor para nossa vida, e não o diploma.
Busco sempre estimular estes valores.

ITAEx –  Que conselho daria hoje aos alunos de engenharia do ITA que estão saindo da graduação e olhando para um futuro cheio de possibilidades e incertezas?
Jorge Ramos – Com certa frequência os jovens me perguntam como planejei minha carreira. E eu sempre digo que nunca planejei de forma precisa no longo prazo. Minha escolha natural sempre foi fazer o melhor nas oportunidades que surgem, me preparar para possíveis oportunidades. Então, o que digo para eles é que abram o leque de seus conhecimentos e de suas competências, sobretudo lembrar que quaisquer que sejam os desafios, as lacunas de conhecimento e competência, o engenheiro egresso do ITA sabe muito bem como buscar o que está faltando e concluir com excelência.
Outro ponto importante, que afeta muito a autoestima e às vezes é bloqueio para excelentes oportunidades, é que é mais importante aprender a gostar do que faz, do que fazer o que gosta.

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