Asas e Engrenagens: um tributo à aviação de caça com o Brigadeiro Follador

A data comemorativa da Aviação de Caça no Brasil, 22 de abril de 1945, foi marcada pelo dia de maior sucesso das ações do Primeiro Grupo de Caça nos céus da Itália, demonstrando a capacidade nacional de lutar pela liberdade contra a tirania e relevando as características dos brasileiros de coragem, lealdade, honra, dever e Pátria.

Nesse contexto histórico da segunda Guerra mundial, o Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, já então um visionário dentro da recém-criada Força Aérea Brasileira – FAB, motivado pelas constatações de necessidades de avanços tecnológicos e desenvolvimento nacional, visualizou a criação de um instituto tecnológico que desse ao Brasil essa capacidade tão fundamental, pois o desenvolvimento tecnológico é de suma importância e, por meio dele, um país se posiciona bem no cenário Internacional.

“Tenho certeza que a constatação das grandes ações do Grupo de Caça na Guerra Aérea e dos grandes avanços tecnológicos realizados motivaram, ainda mais, o Marechal Casimiro a criar, em 1950, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA” – considera o Brigadeiro do Ar R1 Roberto Follador – na reserva da FAB há dois anos.

Aos 55 anos, o curitibano da T04 do ITA, formado em Engenharia Aeronáutica, é o nosso entrevistado – representando um iteano piloto de caça nesse dia comemorativo.

Desde adolescente, nutriu a vontade de se tornar um piloto de caça na FAB. Ao mesmo tempo, sempre teve grande atração por projetos aeronáuticos e seu desenvolvimento. “Com a graça de Deus, pude seguir em frente com essas duas possibilidades, sendo que me formei piloto de caça no Comando Aéreo de Treinamento – CATRE, em Natal – RN, em 1993, e engenheiro aeronáutico, no ITA, em 2004”, conta Follador, que já voou no Brasil com as aeronaves AT-26 Xavante, A-29 Super Tucano, A-1 AMX e F-5 E/FM. No exterior fez manobras com os caças F-16, F-18D Hornet, F-18F Super Hornet, MB-346 e IA-63 Pampa.

As duas formações o levaram, ainda, a perseguir o sonho de se tornar um piloto de provas onde, sob seu ponto de vista, poderia ligar as duas formações dentro da atividade desafiadora dos ensaios em voo para o desenvolvimento de novas aeronaves.

Follador conta que suas experiências nesses aviões foram muito marcantes. Ele voou o Xavante como piloto operacional e instrutor de voo; o F-5EM e A-1, como piloto de Ensaios em voo para desenvolvimento de novos sistemas para a FAB; e o F-18F Super Hornet, para avaliação para o programa FX-2.

“Falar nesses aviões me traz lembranças que cultivo com carinho, como a do voo supersônico em um F-16, sobre o deserto de Mojave, por ocasião da visita à Escola de Ensaios em Voo da Força Aérea dos Estados Unidos – USAFTPS. Mas essas histórias ficariam melhor contadas em uma Ximboca, que é uma reunião tradicional de pilotos de caça, ao final de uma semana de voo, com espaço para lembrar, contar, exagerar um pouco as façanhas, e dar boas risadas”.

Esse não foi um caminho fácil para ele, pois desde o curso de caça, passando pela engenharia aeronáutica e por fim para o curso de ensaios em voo, encontrou ambientes exigentes em dedicação e estudo, mas que, ao mesmo tempo, proporcionaram grandes vitórias e muito conhecimento em aviação e engenharia aeronáutica.

Os sucessos foram obtidos por conta de sua dedicação e também pelo apoio da esposa Andrea, que o acompanhou durante o curso de engenharia e ensaios em voo, em São José dos Campos, época em que nasceram também seus dois filhos. Mariana nasceu quando o pai estava cursando o primeiro ano do ITA, no dia de uma prova de Mat-11 do saudoso professor Jürgen Werner Heinz Geicke. E, para os curiosos, ele teve nota 8,75 e passou na prova. No seu último ano no ITA, nascia Pedro, seu segundo filho, durante o curso de ensaios em voo, que se seguiu ao ITA, “Estávamos com um bebê a bordo para animar ainda mais a nossa vida em São José!” – conta.

Uma das motivações que teve para fazer o curso de engenharia aeronáutica no ITA foi em adição a sua formação de piloto de caça. “É a capacidade em estreitar o conhecimento entre as duas áreas e facilitar a conversa e o entendimento entre elas, harmonizando a tradução do voo para a engenharia e dos termos técnicos para a aviação, buscando uma melhor eficiência no relacionamento entre essas duas áreas”, justifica o iteano.

Theodore Von Karman diz que “cientistas descobrem o mundo que existe e engenheiros constroem um mundo que nunca existiu”, e Follador complementa: “o engenheiro que tem um amplo conhecimento do ambiente operacional é o que tem grandes possibilidades de visualizar inovações na aplicação dos conhecimentos técnicos. Assim, para que a aplicação do conhecimento científico seja efetiva, o conhecimento operacional é uma necessidade!”

Aos novos engenheiros do nosso ITA, deixa uma mensagem: “O conhecimento técnico, aliado ao entendimento das aplicações e necessidades dos usuários das tecnologias, é um excelente caminho para se buscar o total desenvolvimento da capacidade de engenheirar e inovar, além de trazer grande satisfação por ver a aplicação da tecnologia na resolução de problemas de forma efetiva e em retorno para a sociedade brasileira.”

 

ENTREVISTA

ITAEx – Neste Dia da Aviação de Caça, o que representa para o senhor, como engenheiro e ex-piloto da FAB, o legado da aviação de caça brasileira? Como a engenharia contribui para manter esse legado vivo e em evolução?
Brig. Follador – O legado da aviação de Caça traz a memória viva do sacrifício de heróis brasileiros que lutaram pelo bem comum e pela liberdade. Essa luta foi culminada nas mãos dos jovens pilotos, mas também envolveu a engenharia no desenvolvimento de máquinas aéreas que proporcionaram a defesa dos ideais nacionais e de nossa Pátria. Assim, a engenharia tem papel fundamental na defesa dos interesses nacionais, proporcionando ao País os sistemas que o posicionam em destaque no panorama internacional.

ITAEx – Durante sua trajetória como piloto de caça e hoje como piloto de ensaios em voo na Embraer, quais momentos destacaria como marcos de superação técnica e pessoal?
Brig. Follador – A carreira de piloto de caça, engenheiro aeronáutico e piloto de ensaios em voo é marcada pela constante superação de desafios. A tecnologia é dinâmica e está sempre em evolução. Assim, a busca pela constante atualização é já, em si, uma história de conquistas e superação.

ITAEx – O ITA teve um papel central na sua formação, tanto acadêmica quanto ética. Como a vivência na escola — especialmente a cultura da Disciplina Consciente — moldou seu estilo de liderança e sua atuação em missões críticas na FAB e hoje na Embraer?
Brig. Follador – O ITA é uma escola de engenharia que tem suas bases de sucesso plantadas na capacidade de seus alunos em superar obstáculos. Essa capacidade vem do preparo de cada um, e também do espírito de turma que ali é forjado. Um dos amálgamas que nos identifica como iteanos é a Disciplina Consciente (DC), uma herança que recebemos e cultivamos com orgulho. A DC estabelece o relacionamento do espírito de equipe e de confiança mútua e esse sentimento sempre pautou minhas atitudes em ambientes de trabalho, nas equipes que participei ou liderei, levando à eficiência pela confiança e pelo comprometimento com o objetivo geral e não apenas individual.

ITAEx – Na sua experiência, o que torna um engenheiro aeroespacial um diferencial dentro da aviação de caça e nos projetos estratégicos de defesa?
Brig. Follador – O engenheiro aeroespacial que domina o conhecimento do ambiente operacional tem a capacidade de entender e ser entendido mais facilmente. Ele é capaz de ver a necessidade de um sistema e saber como a tecnologia pode atuar na solução de problemas e na inovação. Na confecção de relatórios de ensaios em voo, considero que o coração da análise de um novo sistema está em dizer como as características do avião ensaiado impactam a missão que a aeronave deve desempenhar. O engenheiro que desconhece em detalhe a missão do sistema que está projetando, fica incapacitado em dizer se ele atende ou não os requisitos que se propõe atingir.

ITAEx – Hoje, como piloto de ensaios em voo na Embraer, quais desafios enxerga para a nova geração de engenheiros e pilotos brasileiros? O que diria para quem sonha em voar — literal ou simbolicamente — tão alto quanto o senhor?
Brig. Follador – Aos novos engenheiros, penso que a busca do conhecimento do ambiente operacional que desejam impactar com seu trabalho e a constante atualização nos conhecimentos técnicos são as duas linhas que devem ser constantemente perseguidas, tendo a DC como luz norteadora de seu relacionamento profissional. Além disso, digo que os objetivos traçados devem ser grandiosos e audaciosos. Ao longo de sua carreira, mesmo que não atinja por completo aquele objetivo maior que visualizou, ao olhar para trás, vai entender quantas vitórias intermediárias foram alcançadas para se manter focado em atingir o objetivo final, e vai se ver quão vitoriosa foi a carreira. Eu, de minha parte, tive o objetivo final de me tornar um astronauta. Ele não foi alcançado, mas hoje olho para trás e me orgulho das vitórias que obtive nesse caminho.

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