Nesta entrevista exclusiva, temos o privilégio de conversar com José Henrique de Sousa Damiani, iteano de 72 anos, com uma trajetória profissional notável e multifacetada. Formado em Engenharia Eletrônica pelo ITA em 1974, com mestrado na George Washington University e doutorado pelo ITA, Damiani dedicou sua carreira à excelência em Engenharia, pesquisa e inovação.
Uma das principais razões para sua escolha pelo ITA foi o interesse, despertado na adolescência, pela exploração e conquistas espaciais, aliado aos exemplos inspiradores de amigos de Florianópolis, cidade onde nasceu, que haviam ingressado e se formado na instituição.
Sua experiência abrange desde a atuação como professor no ITA até importantes contribuições no INPE e no desenvolvimento de ecossistemas de inovação e parques tecnológicos, como o CECOMPI e o Parque Tecnológico de São José dos Campos.
Damiani compartilha suas percepções sobre a evolução do ensino de Engenharia no Brasil, a importância da pesquisa acadêmica para o avanço de setores estratégicos como o aeronáutico e espacial, e os desafios da gestão de grandes projetos.
Um dos pontos altos da entrevista é a sua participação no projeto do Aeroporto de Guarulhos, que completou 40 anos em 20 de janeiro deste ano. Damiani nos leva aos bastidores desse projeto transformador, revelando as inovações tecnológicas implementadas na época e o impacto que elas tiveram na consolidação do aeroporto como um dos maiores hubs da América Latina.
Damiani aposentou-se como pesquisador do DCTA, atuando como professor do ITA. Hoje continua sua trajetória como professor voluntário no Instituto .
Prepare-se para uma leitura inspiradora, repleta de insights valiosos sobre Engenharia, inovação e o futuro do Brasil.
Sobre sua Experiência no ITA
ITAEx: Sua trajetória no ITA começou como aluno na turma de 1974, e depois como professor voluntário. Quais foram as principais lições que o senhor aprendeu durante sua graduação, e como elas moldaram sua carreira profissional?
Damiani: As principais lições que aprendi envolvem a importância da formação e da estrutura familiar, o compromisso com uma educação acadêmica de excelência e a responsabilidade de retribuir esses alicerces.
“Acredito que, ao atuar em benefício da minha família, das instituições que me formaram — especialmente o ITA e a Aeronáutica —, contribuo para a educação e o desenvolvimento do País.” – Damiani (T74)
Outro ponto relevante foi a base educacional que recebi antes de ingressar no ITA, tanto nas escolas de Florianópolis quanto na orientação familiar. Isso foi crucial para consolidar os fundamentos educacionais e comportamentais que me permitiram avançar na formação acadêmica no ITA, onde tive uma continuidade natural da educação que eu já tinha recebido.
É importante também destacar os exemplos dos professores, administrativos e gestores do ITA, que sempre demonstraram altíssima competência e dedicação. A convivência no campus do DCTA/ITA, especialmente no H8, com amigos de turma e professores, formou vínculos que persistem até hoje, sendo fundamentais para o trabalho conjunto que desenvolvemos em organizações como a Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA).
ITAEx: Como o senhor vê a evolução do ensino de Engenharia no Brasil, e quais mudanças são necessárias para preparar os alunos diante dos desafios tecnológicos do futuro?
Damiani: O ensino de Engenharia tem se esforçado para acompanhar o avanço científico e tecnológico, o que é um desafio constante, dada a velocidade de inovação nas áreas de conhecimento aplicáveis à Engenharia. Para que as faculdades se mantenham atualizadas, é essencial uma atualização curricular contínua, o desenvolvimento constante do corpo docente e a promoção de atividades de pesquisa e desenvolvimento desde os primeiros anos de graduação.
Além disso, a integração com outras áreas e faculdades dentro das universidades é fundamental, já que as atividades multidisciplinares são cada vez mais necessárias para a formação de engenheiros completos. A cooperação com instituições acadêmicas nacionais e internacionais também é necessária, por meio de intercâmbios de alunos e professores, bem como projetos conjuntos, para manter o acompanhamento do estado da arte e contribuir para o seu avanço.
ITAEx: O senhor ministrou a disciplina de Análise de Sistemas no Curso Superior de Tecnologia de Computação (CSTC) entre 1978 e 1982. Como o ensino de computação e sistemas evoluiu ao longo dos anos, especialmente com o advento das novas tecnologias e da digitalização?
Damiani: A experiência no CSTC foi fundamental para minha trajetória profissional e acadêmica nas áreas de tecnologias de informação e comunicação, tanto no DCTA quanto em organizações como a Infraero e o Centro de Informática de Automação de Santa Catarina. O CSTC foi um curso extremamente bem-sucedido, formando profissionais altamente qualificados para a Aeronáutica e a iniciativa privada.
O ensino de computação e sistemas tem acompanhado de perto o avanço das tecnologias de informação e comunicação. O crescimento de áreas como segurança cibernética, inteligência artificial, robótica, digitalização organizacional e suas aplicações em defesa e segurança nacional são reflexos dessa evolução. O ITA tem se destacado nesse campo, oferecendo cursos e desenvolvendo projetos de pesquisa nessas novas tecnologias.
ITAEx: Quais são os principais valores que o ITA transmite aos seus alunos, e como impactaram suas escolhas profissionais e a forma como lidam com grandes projetos de engenharia e inovação?
Damiani: O ITA transmite aos seus alunos o compromisso com a excelência acadêmica, a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a atualização constante. Também valoriza a disciplina consciente, o exercício da cidadania e a aplicação desses princípios em benefício das organizações e da sociedade.
Esses valores estão presentes nas abordagens dos alunos aos projetos em que participam, sempre buscando a melhor gestão, execução e satisfação das partes interessadas.
Sobre sua Carreira Acadêmica e Pesquisa
ITAEx: Além de sua experiência no ITA, o senhor também atuou como pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e trabalhou em temas como a gestão estratégica em ciência, tecnologia e inovação. Quais foram suas principais contribuições para o INPE, e como essas pesquisas influenciaram o desenvolvimento de tecnologias espaciais no Brasil?
Damiani: O INPE foi fundamental para minha formação inicial em Análise de Sistemas e para a realização do mestrado em Ciência, Tecnologia e Políticas Públicas na The George Washington University. Após concluir o mestrado, trabalhei no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, mais tarde, no então CTA, especialmente no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), onde pude aplicar o conhecimento adquirido.
Foi no INPE que comecei a entender o valor das pesquisas espaciais, especialmente no que se refere à proteção e ao aproveitamento dos recursos naturais do Brasil, além da defesa nacional. Para retribuir o que recebi do INPE, procuro divulgar e promover suas atividades, principalmente nas áreas de Meteorologia e prevenção de desastres naturais.
O que tenho buscado, tanto no Brasil quanto no exterior, é destacar a importância das pesquisas espaciais, como as desenvolvidas no INPE, para a exploração, o uso sustentável e a conservação de recursos naturais, além do desenvolvimento do País. Essas pesquisas também são fundamentais para a integração e a defesa de uma Nação como a nossa, de dimensões continentais. Os esforços de pesquisa e desenvolvimento no setor espacial, realizados pelo INPE e pelo DCTA, são complementares. O INPE foca em áreas estratégicas, enquanto o DCTA trabalha para garantir o acesso nacional autônomo ao espaço, ambos essenciais para assegurar a autonomia do Brasil na exploração espacial e para aproveitar os benefícios que essa exploração pode trazer.
Meu doutorado no ITA complementou essa formação acadêmica, onde apliquei os conhecimentos adquiridos no INPE em Análise de Sistemas. Ao ministrar disciplinas no ITA, sempre enfatizei a importância da pesquisa espacial para o Brasil.
ITAEx: O senhor também se especializou na concepção de ecossistemas de inovação e parques tecnológicos. Como essa expertise foi aplicada em projetos como o Centro de Competitividade do Cone Leste Paulista (CECOMPI) e outros em que o senhor participou?
Damiani: A formação que recebi no ITA, na graduação e pós-graduação, junto com o mestrado na The George Washington University, me possibilitou trabalhar na criação do CECOMPI e do Parque de Inovação Tecnológica São José dos Campos (PIT SJC). Minha experiência no INPE e nos institutos do DCTA, como o IPD, o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e a Vice-Direção do então CTA, hoje DCTA, foi essencial para esse trabalho.
Em reunião com representantes da Faculdade de Tecnologia – FATEC de São José dos Campos e do Consulado da Holanda no Brasil – Damiani representou o ITA nesse encontro que tinha o objetivo de estreitar relações e intensificar a cooperação científica entre Fatec e Instituições de Ensino Superior Holandesas.
O CTA foi fundamental na criação de um ecossistema de inovação que integra as instituições essenciais para a pesquisa e o desenvolvimento. Esse ecossistema resultou em novas tecnologias, empregadas por empreendedores para criar negócios tecnológicos inovadores. A Embraer é um excelente exemplo desse tipo de negócio, assim como as várias empresas inovadoras que surgiram na região de São José dos Campos.
A experiência adquirida com o CTA e o INPE foi aplicada na concepção e na implantação do CECOMPI e do PIT SJC, em colaboração com a Prefeitura Municipal de São José dos Campos e a Fundação Marechal Casimiro Montenegro Filho (FCMF). Essas organizações desempenham papéis vitais no desenvolvimento econômico e social da cidade e da região do Vale do Paraíba.
ITAEx: A relação entre ciência, tecnologia e inovação tem sido um tema constante em sua carreira. Como o senhor avalia o papel da pesquisa acadêmica no avanço de setores como o aeronáutico e o espacial no Brasil? O que ainda precisa ser feito para impulsionar essas áreas?
Damiani: A pesquisa acadêmica é fundamental para gerar as bases de conhecimento científico e tecnológico e formar os recursos humanos especializados, essenciais para o desenvolvimento de setores intensivos em inovação, assim como os setores aeronáutico e espacial, vitais para a defesa nacional, a segurança pública e outros campos críticos.
Os desafios são contínuos e exigem investimentos constantes em pesquisa, desenvolvimento e inovação, assim como a formação de profissionais qualificados. O ITA e o DCTA têm desempenhado um papel importante nisso desde os anos 1950.
O Brasil deve continuar apoiando e incrementando seus investimentos nessas áreas estratégicas, especialmente no setor aeroespacial. A implementação de ecossistemas de inovação, como o DCTA e o PIT SJC, em outras regiões do Brasil, contribuirá significativamente para o desenvolvimento econômico e social, como já se observou em São José dos Campos.
A criação do campus do ITA em Fortaleza também é uma iniciativa importante para fomentar esses ecossistemas de inovação em outros estados, impulsionando o desenvolvimento com base em educação, ciência, tecnologia e inovação.
ITAEx: O senhor já se dedicou ao estudo de clusters de inovação, com foco nos setores de aeronáutica, espacial e defesa. Quais são os principais fatores que contribuem para o sucesso de um cluster de inovação, e como eles podem ser aplicados ao contexto brasileiro?
Damiani: Clusters de inovação são essenciais para o desenvolvimento econômico e social de uma região. Exemplos como o Vale do Silício e a Rota 128, nos Estados Unidos, mostram como a concentração geográfica e setorial de empresas, apoiadas por organizações de ensino, pesquisa e inovação, pode gerar resultados extraordinários.
Os principais fatores para o sucesso de um cluster são a presença de organizações de excelência, como o DCTA/ITA, e instituições como o Massachusetts Institute of Technology -MIT, Stanford, Harvard e universidades tecnológicas na União Europeia. Essas organizações têm a capacidade de fomentar a colaboração entre o setor público, acadêmico e privado, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de novas tecnologias e negócios inovadores.
Os clusters de inovação potencializam o conceito da hélice tríplice, reunindo governo, academia e setor privado para promover o círculo virtuoso da inovação. Esse ciclo transforma conhecimento científico e tecnológico em desenvolvimento econômico e social, criando novas empresas, empregos e riqueza, o que, por sua vez, fortalece o próprio ecossistema.
Foi esse modelo que inspirou a criação do ecossistema de inovação em São José dos Campos, com o planejamento do DCTA e outras organizações de pesquisa e desenvolvimento. A Prefeitura de São José dos Campos tem desempenhado um papel vital na atração de empresas e instituições para o município, criando um ambiente propício à inovação.
Esse modelo também foi aplicado na concepção do CECOMPI e do PIT SJC, que agora representam componentes-chave do sistema local e regional de inovação.
Sobre Inovação e Gestão em Projetos
ITAEx: O senhor tem uma vasta experiência em gestão de projetos, tanto no setor público quanto no privado. Quais são os maiores desafios enfrentados pelos engenheiros e gestores ao lidar com projetos de grande porte, e como a colaboração entre diferentes áreas pode ajudar a superar essas dificuldades?
Damiani: Os maiores desafios envolvem mobilizar recursos e apoio para a realização de empreendimentos e a entrega de produtos e serviços que atendam, e até superem, as expectativas de patrocinadores e partes interessadas, como clientes, equipes, financiadores, órgãos reguladores e a comunidade local.
É bom lembrar que projetos são empreendimentos únicos, destinados à entrega de produtos ou serviços, sempre respeitando requisitos de prazos, custos e qualidade estabelecidos. Fatores de sucesso incluem a qualificação das equipes, especialmente em métodos de gestão de projetos e Engenharia de Sistemas, o apoio contínuo da organização responsável pelo projeto, e a comunicação eficaz com as partes interessadas.
A entrega de resultados intermediários satisfatórios é essencial não apenas para aumentar a confiança dos patrocinadores e das partes interessadas, mas também para manter a motivação da equipe durante a execução do projeto. Além disso, acredito que a formação em Gestão de Projetos deve ser integrada ao ensino de Engenharia, utilizando abordagens como project-based learning – aprendizagem baseada em projetos. A educação em Gestão de Projetos deve ser complementada com Engenharia de Sistemas, pois essas áreas se complementam para garantir a entrega de resultados de alta qualidade, dentro dos requisitos de custo, prazo e qualidade.
É também fundamental que essa formação esteja alinhada com Administração em Engenharia, Ciências da Administração e Empreendedorismo, preparando os engenheiros para desempenhar suas funções técnicas e executivas nas organizações e para criar novas empresas.
ITAEx: Como professor e pesquisador, o senhor acompanhou de perto a evolução da Engenharia no Brasil. Quais foram os principais avanços que observou nas últimas décadas, e como eles impactam a sociedade e a economia?
Damiani: Nos últimos anos, temos observado grandes avanços na produção e entrega de obras e sistemas essenciais para o desenvolvimento do Brasil. Isso inclui obras de infraestrutura, sistemas de transporte, e unidades de produção em diversos setores.
A Engenharia brasileira também tem sido incorporada em projetos realizados em outros países, com destaque para áreas como infraestrutura e aeronáutica, onde a competência nacional está amplamente reconhecida, exemplificada pela Embraer, que se destaca entre as principais empresas do setor.
A Engenharia no Brasil tem avançado significativamente, com especial ênfase em setores essenciais como aeronáutica, espacial e defesa, além de inovações em automação bancária e de telecomunicações, áreas nas quais o ITA foi pioneiro.
A formação em Engenharia, além de incluir Gestão de Projetos e Sistemas, deve integrar disciplinas de Sustentabilidade e Transição Energética, para garantir que os engenheiros estejam preparados para os desafios futuros.
ITAEx: Com seu vasto conhecimento em gestão estratégica de inovação, qual é a sua visão sobre o futuro dos grandes projetos de infraestrutura no Brasil, como aeroportos, parques tecnológicos e centros de pesquisa? O que pode ser feito para fomentar mais inovação e competitividade nessas áreas?
Damiani: A competência nacional nesses segmentos está consolidada e continua evoluindo para enfrentar os novos desafios. Nossos aeroportos, que incorporam Engenharia e sistemas produzidos no Brasil, têm desempenhado um papel essencial no desenvolvimento nacional, movimentando com segurança volumes crescentes de aeronaves, passageiros e carga.
Os parques tecnológicos, como o de São José dos Campos, e outros como o Sapiens Park, em Florianópolis, têm se tornado referências em inovação. Nossos centros de pesquisa, especialmente nas áreas aeroespacial e de defesa, são reconhecidos internacionalmente, e instituições como a Embrapa, Fiocruz e Butantan são exemplos de excelência em seus respectivos campos.
O próximo passo é promover e apoiar o contínuo desenvolvimento dessas instituições, engajando os sistemas locais, regionais e nacionais de inovação para resolver os grandes desafios nacionais. Isso inclui ampliar a autonomia do Brasil em tecnologias críticas, como transição energética, sustentabilidade e infraestrutura estratégica.
A inovação e a competitividade podem ser impulsionadas por meio de uma maior integração entre as instituições de pesquisa, os setores privado e público, e a educação. Esse esforço deve ser focado em aumentar a produtividade e a competitividade do Brasil, garantindo seu posicionamento estratégico no cenário internacional e fortalecendo sua segurança, seja econômica, nacional ou no bem-estar dos cidadãos.
Sobre a Contribuição para o Aeroporto Internacional de São Paulo | Guarulhos – GRU
ITAEx: Como o senhor avalia o impacto das inovações tecnológicas implementadas na época da construção de GRU? E quais foram as principais soluções que ajudaram a transformar o aeroporto em um dos maiores hubs de transporte da América Latina?
Damiani: A construção do Aeroporto de Guarulhos foi uma resposta do Governo Federal, por meio do então Ministério da Aeronáutica, e do Governo do Estado de São Paulo, à crescente demanda por transporte aéreo no Brasil, com o objetivo de integrar SP ao restante do Brasil e ao exterior, impulsionando o desenvolvimento econômico.
Em 1979, o Ministério da Aeronáutica formou a Comissão Coordenadora do Projeto Sistema Aeroportuário da Área Terminal de São Paulo – COPASP, responsável pela concepção e gestão do projeto do aeroporto. Inaugurado em 1985, o Aeroporto de Guarulhos foi operado inicialmente pela Infraero.
A COPASP adotou um modelo organizacional inovador, dedicado exclusivamente ao projeto, com uma equipe técnica altamente qualificada. Uma das inovações foi a realização de um concurso para a escolha do plano diretor do aeroporto, que resultou na adoção do modelo de pier-finger para os terminais de passageiros. Esse modelo representava uma inovação em relação ao modelo linear mais comum na época.
Os projetos básicos e detalhados contaram com a colaboração de empresas nacionais especializadas, sob a supervisão da COPASP, e a implementação foi realizada com a expertise acumulada pelo Ministério da Aeronáutica em projetos anteriores, como os aeroportos do Rio de Janeiro e Manaus, e na implantação de sistemas de controle de tráfego aéreo no Brasil.
Outro fator essencial foi a seleção cuidadosa das empresas para fornecer os sistemas do aeroporto. Os sistemas implementados estavam no estado da arte da época, oferecendo inovações significativas em relação a outros aeroportos existentes.
Além disso, a COPASP se preocupou com a integração do novo aeroporto com a infraestrutura rodoviária, criando acessos adequados pelas Rodovias dos Trabalhadores e Presidente Dutra, e com a conexão com outros aeroportos de São Paulo, como Congonhas, Viracopos e Campo de Marte.
A COPASP também se dedicou a garantir que o aeroporto atendesse a todas as necessidades das empresas aéreas e prestadores de serviços que operariam no local. O GRU foi projetado como uma grande cidade, com a gama de serviços necessários para os passageiros e suas comodidades, incluindo segurança, ar-condicionado, processamento de bagagens, e estacionamento.
Em termos operacionais, a COPASP garantiu que o aeroporto fosse eficaz desde o início de suas operações, atendendo plenamente às necessidades de seus usuários e partes interessadas. Minha participação na COPASP foi no setor de eletrônica e sistemas de proteção ao voo, com foco na integração das novas tecnologias de informação e comunicação aos sistemas analógicos tradicionais de aeroportos.
ITAEx: O aeroporto de Guarulhos passou por várias transformações ao longo desses 40 anos. Quais lições podem ser tiradas da experiência de planejamento e implementação de um projeto de infraestrutura dessa magnitude, e como elas podem ser aplicadas em novos projetos no Brasil?
Damiani: As lições aprendidas com o projeto do Aeroporto de Guarulhos são diversas e podem ser agrupadas em aspectos organizacionais, operacionais e técnicos. Primeiro, o modelo organizacional adotado pela Copasp, com uma estrutura dedicada exclusivamente ao projeto e com foco no planejamento da demanda, foi fundamental para o sucesso. A gestão e a supervisão de um corpo técnico altamente capacitado, com experiência acumulada em outros projetos de grande porte, garantiram que fosse executado com alta competência.
A escolha das melhores empresas para a execução dos projetos de engenharia e fornecimento de sistemas também foi crucial. Além disso, a COPASP teve um cuidado especial em atender às necessidades das partes interessadas, como as empresas aéreas, prestadores de serviços e a comunidade local, garantindo que o aeroporto fosse funcional e atendesse a todos os requisitos de operação.
Outro ponto importante foi a integração do aeroporto com a infraestrutura existente, como as rodovias e os outros aeroportos da região. A atenção dedicada ao planejamento e à coordenação com esses outros sistemas foi essencial para o sucesso do projeto.
A experiência de Guarulhos também ilustra a importância de capacitar recursos humanos, incluindo a formação de especialistas em novas tecnologias. A COPASP fez isso ao formar especialistas no exterior, o que garantiu a autonomia nacional na operação e expansão do aeroporto.
Finalmente, as lições aprendidas com a ampliação do aeroporto para atender à demanda da Copa do Mundo de 2014 demonstram a flexibilidade e a visão estratégica necessárias para lidar com a evolução contínua das necessidades de infraestrutura.
O sucesso do Aeroporto de Guarulhos é um reflexo da competência nacional em projetos de grande porte, e é um modelo que pode ser replicado em outros projetos no Brasil, especialmente em setores como o aeroespacial e de defesa, onde o DCTA/ITA tem sido fundamental na formação de base de conhecimento e qualificação de recursos humanos.
Reflexões Finais e Perspectivas Futuras
ITAEx: O senhor acredita que o Brasil está no caminho certo para se tornar um líder em inovação tecnológica, especialmente nos setores aeronáutico e espacial?
Damiani: Tenho plena convicção de que o Brasil possui todos os recursos e competências essenciais, além de vantagens comparativas, para se tornar um líder em áreas e tecnologias críticas tanto para o país quanto globalmente. Isso inclui transição energética, novas tecnologias de mobilidade, inteligência artificial, produção de semicondutores, exploração espacial, defesa nacional e segurança pública. O Brasil tem o potencial de desenvolver e aplicar os resultados de pesquisa, inovação e desenvolvimento para ampliar a autonomia nacional em setores estratégicos, gerando inovações que aumentem a competitividade, criem empregos e promovam o desenvolvimento econômico e social.
O DCTA e seus institutos desempenham e continuarão desempenhando papéis fundamentais na formação de recursos humanos altamente qualificados, como o ITA, em parceria com seus outros institutos. Eles seguem a filosofia do Marechal Casimiro Montenegro Filho, desenvolvendo e aplicando tecnologias críticas para o benefício do País e avançando na superação dos desafios contínuos que surgem.
ITAEx: Qual a sua visão sobre doações dos ex-alunos em prol do ITA?
Damiani: São essenciais e complementam os investimentos feitos pelo ITA, abrindo novas oportunidades para a formação dos estudantes, por meio de projetos e atividades que ajudam a desenvolver o potencial dos alunos, ampliando seus horizontes e contribuindo para uma formação ainda mais completa.