Professor Eguti – Da Mecatrônica ao Futuro da Mobilidade Elétrica

O Prof. Dr. Carlos Cesar Aparecido Eguti, coordenador do Centro de Competência em Manufatura (CCM) – laboratório da Divisão de Engenharia Mecânica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) que atua em projetos com foco em tecnologias de manufatura – é um dos grandes nomes por trás do desenvolvimento de projetos inovadores que unem teoria e prática no campo da Engenharia Mecatrônica, Aeroespacial e Automotiva.

Com uma trajetória acadêmica que inclui graduação, mestrado e doutorado, além de sua constante contribuição para iniciativas acadêmicas do ITA, como a Formula ITA, o Professor Eguti tem sido um pilar de inovação para os alunos do ITA.

Na entrevista a seguir ele compartilha suas experiências e perspectivas sobre o papel do CCM no desenvolvimento de tecnologias de ponta, além de falar sobre o impacto da Formula SAE, uma competição que une estudantes de Engenharia para a construção de veículos elétricos de alto desempenho. O projeto, que já conquistou grandes resultados em competições nacionais, reflete a busca pela excelência e a formação de novos engenheiros prontos para enfrentar os desafios da indústria automobilística.

ENTREVISTA 

ITAEx – O senhor tem uma trajetória bastante rica em diversas áreas. Como elas se complementam no seu trabalho atual, especialmente no contexto do CCM do ITA?
Prof. Eguti – Minha graduação foi em Engenharia Eletrônica e, logo em seguida, fiz mestrado em Engenharia Mecânica, na área de ciências térmicas. Eu defendi o mestrado em dezembro e logo em janeiro já estava matriculado no doutorado no ITA, na área de Mecatrônica. Acabou que juntou tudo direitinho: Eletrônica, Mecânica e terminando em Mecatrônica. Defendi a tese de doutorado no CCM e acabei ficando por aqui mesmo desde então. Acho que estou na área certa, fazendo exatamente aquilo que sempre gostei de fazer, dar aulas e trabalhar com projetos de mecatrônica. A natureza interdisciplinar disso é reflexo amplo dos  tipos de projetos que já executei aqui no CCM/ITA.

ITAEx – A Formula ITA tem tido boa visibilidade. Poderia nos contar um pouco sobre como surgiu a iniciativa e qual o papel do CCM neste desenvolvimento?
Prof. Eguti – O CCM tem um papel de destaque em várias iniciativas do ITA. Aqui temos o Prof. Ronnie Rego, que é o orientador da Baja SAE [competição de corrida para carros off-road]. Ajudamos também a Rocket Design [competição para construção de foguetes], além da ITAndroids [de robôs humanóides], coordenada pelo Prof. Marcos Máximo.
No começo, a competição Formula SAE estava sob coordenação do Prof. Lindolfo Moreira Filho, e eu era um colaborador. Com a sua saída, fui convidado pelos próprios alunos para ser o orientador, e aceitei o convite de imediato.


Em 2023, começamos na categoria Formula SAE Elétrico para construção do carro de corrida com propulsão elétrica. A anterior era com motor a combustão, sendo essa a categoria mais antiga e com mais equipes hoje. Os próprios alunos da iniciativa decidiram mudar para a competição do carro elétrico nesse momento. É mais atual e tem mais desafios. Talvez, no futuro, se a competição do carro a combustão continuar, eu planejo orientar também uma segunda equipe nessa categoria. Mas, no momento, todos os esforços estão nessa equipe com carro elétrico.

ITAEx – Em 2023, a equipe conseguiu participar da competição nacional com o chassi fabricado e validado. Pode nos contar como foi essa experiência? E, ainda, quais foram os principais aprendizados dessa participação?
Prof. Eguti – Essa equipe, sob minha coordenação, estreou praticamente esse ano de 2024. No ano passado só tínhamos o chassis do carro e entramos na competição de 2023 mais para conhecer detalhes sobre as equipes e a competição em si. Em agosto de 2024 participamos com um carro, mas ele não correu, devido a um problema de última hora. Ficamos bem frustrados, mas mesmo assim alcançamos uma colocação geral final em 8º lugar, dentre 21 equipes. Além disso, ganhamos um troféu de 1º lugar na apresentação do projeto elétrico do carro. Isso já valeu a fantástica experiência e aumentou nossas expectativas para a próxima corrida.

ITAEx – Quais são as expectativas da Formula ITA para 2025 e como o laboratório do CCM está contribuindo para esses avanços?
Prof. Eguti – A competição de 2025 será no mesmo local, no ECPA – Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo, no período de 30/07 a 03/08. A equipe está bem animada e motivada, pois tenho certeza que vamos obter um resultado melhor. O projeto do carro está bem avançado, faltando poucos detalhes, que eles devem resolver até o começo de 2025. O CCM, como sempre, vai dar todo o suporte para eles, colocando sua infraestrutura à disposição.

ITAEx – Sabemos que a Formula ITA é uma ótima oportunidade de aprendizado prático para os alunos, mas como ela também pode contribuir para a inovação e o desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil?
Prof. Eguti – O objetivo de todos os patrocinadores do evento no Brasil é o desenvolvimento do setor automotivo, seja com novas tecnologias ou com novos recursos humanos. Em ambos os casos, não tenho dúvida que o ITA tem muito a oferecer. Os alunos que estão na equipe hoje querem fazer estágio e se interessaram bastante com as oportunidades das empresas desse setor. Tivemos uma conversa muito produtiva com diretores da WEG [a maior fabricante de motores elétricos do Brasil, dentre outras áreas], e acho importante dizer que a empresa patrocina o evento com a expectativa – mútua da minha parte – de despertar o sabor da Engenharia Automotiva nesses alunos. Estou com dois estudantes de iniciação científica (IC) com temas ligados a mobilidade elétrica, além de outros dois que me procuraram para fazer seus trabalhos de graduação (TG), com temas também ligados à Formula SAE e à Engenharia Automotiva. Isso deve ocorrer com todos os demais professores envolvidos nas competições da SAE no Brasil. Desta forma, não resta dúvida que essa experiência do aluno de graduação nesse evento crie uma tendência natural para ele, depois de formado, se envolver mais com Engenharia da Mobilidade.

ITAEx – O senhor já esteve envolvido com outras iniciativas acadêmicas no ITA, além da Formula ITA?
Prof. Eguti – Sim, por alguns anos eu ajudei a ITAndroids, principalmente orientando alguns alunos de IC da iniciativa. O pessoal da ITA Baja também tem portas abertas aqui no CCM e sempre que eles precisam, sabem que eu estou à disposição para ajudar, dentro da minha disponibilidade. Além dessas, estou ajudando o prof. René Gonçalves [de Química], na formação da equipe para participar, acredito que em 2026, do Fórmula H2, que é para construção de um carro elétrico movido por uma célula a combustível de hidrogênio. Essa também é uma iniciativa recém-criada e tem grande comunalidade com as iniciativas Baja e Formula SAE. Teve um ano, acho que em 2013, que também orientei uma equipe de alunos do ITA numa competição de guerra de robôs. Foi muito engraçado, mas o robô não sobreviveu muito tempo na arena da competição, mas valeu a iniciativa. Essa de guerra de robôs eu submeti um projeto numa chamada universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e fomos contemplados com R$ 30 mil para fazer o robô. Na ocasião, convidamos a Fundação Hélio Augusto de Souza (FUNDHAS), uma escola da prefeitura de São José dos Campos, para participar conosco, e consegui unir esses alunos do ensino médio com os graduandos do ITA na competição. Foi muito gratificante.

ITAEx – Qual a sua visão sobre a nossa Associação e como o senhor considera a sua contribuição para a carreira acadêmica e profissional dos alunos?
Prof. Eguti – Não tenho dúvidas que a ITAEx é uma iniciativa única nesse País e tem uma proposta de valor muito importante para a comunidade iteana. Acho que é um exemplo a ser seguido por outras universidades brasileiras. Os projetos financiados pela ITAEx fazem a diferença na formação dos alunos do ITA. Só tenho a agradecer pelo apoio dado a essa iniciativa.

ITAEx – O que recomenda para os alunos que estão começando sua trajetória no ITA, especialmente aqueles interessados em projetos de inovação como a Formula ITA?
Prof. Eguti – Eu diria para eles procurarem os capitães da Formula para participar das dinâmicas, acho que eles têm um processo próprio de seleção para novos membros. Também recomendo que procurem temas de IC, TG e até mestrado nessa área, tanto no CCM, quanto nos demais laboratórios das divisões do ITA. Em todo caso, estou pronto para conversar com qualquer aluno que tenha o interesse em entrar nessa área. Talvez conhecer os projetos de pesquisa do CCM seja um primeiro passo.

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