Professor Armando Ramos Gouveia
Com uma trajetória de mais de duas décadas dedicadas à preparação de estudantes e captação de recursos para financiar viagens e participações da equipe em Olimpíadas de Matemática, o Professor Armando Ramos Gouveia, aos 53 anos, compartilha insights sobre a iniciativa acadêmica ITAMAT e o impacto na performance dos Alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em competições internacionais.
Graduado em Ciência da Computação e Mestre em Matemática Aplicada, ambos pela Universidade de São Paulo (USP), Armando Gouveia é Professor Adjunto do ITA, e sua experiência é na área de Ciência da Computação, com ênfase em Teoria da Computação.
Em 2017, ganhou o Prêmio Láurea Casimiro Montenegro Filho – concedida pela Fundação Casimiro Montenegro Filho (FCMF) aos docentes do ITA que desenvolvem e utilizam práticas e abordagens pedagógicas com o objetivo de melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Em vários anos foi homenageado com o Prêmio Weis no ITA.
ENTREVISTA
ITAEx – A ITAMAT tem desempenhado um papel importante na preparação dos Alunos do ITA para competições de Matemática como a IMC (International Mathematics Competition). Como surgiu a ideia para essa iniciativa e qual tem sido o impacto dela na performance dos alunos nas olimpíadas de matemática?
Armando Ramos Gouveia – A iniciativa ITAMAT foi criada em 2023. Mas, antes disso, há mais de duas décadas, os Alunos do ITA se reúnem informalmente para estudar juntos em preparação para as olimpíadas brasileira e internacional de Matemática. Digamos que, em 2023, apenas formalizaram uma “entidade”, porém o estudo e a participação em olimpíadas ocorrem desde 2001 e, com mais intensidade, desde 2008.
ITAEx – Há quanto tempo o senhor coordena a equipe do ITA na IMC?
ARG – Desde 2008 aplico as provas de olimpíada no ITA e incentivo os grupos de estudo. Porém, sempre dependeu muito de Alunos específicos, com maior ou menor motivação em cada turma. De modo que, além das aulas, o que realmente funciona ininterruptamente são as reuniões informais dos Alunos do ITA, quando estudam juntos em preparação para as olimpíadas.
ITAEx – E quais foram os principais desafios enfrentados pela equipe?
ARG – O maior sempre foi e continua sendo obter patrocínio para a viagem e participação no evento. E essa é a minha tarefa. Os custos de passagem aérea, inscrição e hospedagem são bastante altos, pois a olimpíada internacional ocorre na Europa. Em vários anos, principalmente antes de 2008, o ITA teve alunos premiados na olimpíada brasileira, mas que não conseguiram participar da internacional por falta de patrocínio.
ITAEx – Quais foram os resultados desse ano na IMC?
ARG – Nessa 31ª edição da IMC, de 5 a 11 de agosto, participaram 401 estudantes de mais de 100 universidades do mundo inteiro, e o evento foi realizado em Blagoevgrad, na Bulgária. O desafio era solucionar, em duas sessões de cinco horas cada, problemas das áreas de álgebra, análise (real e complexa) e análise combinatória. Cada item deveria ser precisamente formulado, incluindo a apresentação do resultado de forma detalhada. Além do ITA, as outras instituições brasileiras participantes foram o Instituto Militar de Engenharia (IME), a Universidade de São Paulo (USP – São Paulo e São Carlos), a Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), a Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), num total de 30 estudantes.
Coordenei a equipe do ITA, composta por cinco Alunos, que teve quatro premiados, conquistando três medalhas de prata, uma de bronze e uma menção honrosa.
Na classificação por equipes, leva-se em conta a pontuação dos três melhores Alunos e também a média de todos os componentes da equipe. Então, com esse critério, o ITA ficou na 32ª posição na classificação geral por universidades. Esse resultado nos colocou em segundo lugar da América Latina.
Os Medalhistas de Prata foram Matheus Militão da Silva Sulzbacher (T27), Renan Almeida Ferreira (T25) e Douglas Massahiro Kotsubo (T25). O Medalhista de Bronze foi José Ronaldo Silva Henrique Filho (T26), e a Menção Honrosa foi para Ângelo de Carvalho Nunes (T27).
Além desses resultados na IMC, o aprendizado e o crescimento pessoal dos nossos Alunos foram inestimáveis. Considero que a nossa equipe teve ótima classificação, graças ao preparo e à competência dos estudantes. E isso só foi possível com as doações de vários ex-Alunos do ITA, que se dispuseram a financiar a viagem, a inscrição no evento e a hospedagem; tudo viabilizado com apoio e suporte da ITAEx. E ressalto a necessidade da continuidade dessa cooperação para os próximos eventos.
Equipe do ITA na IMC 2024
ITAEx – Quais são os principais benefícios na participação dos Alunos do ITA em competições internacionais de Matemática, tanto do ponto de vista acadêmico quanto pessoal?
ARG – Posso citar três. O primeiro é que torna-se uma ótima oportunidade para que os conhecimentos obtidos dentro e fora da sala de aula sejam colocados à prova. Acredito também que há maior integração entre Alunos e Professores, e entre Alunos e ex-Alunos olímpicos. Há, ainda, enriquecimento pessoal pelo contato com estudantes de várias partes do mundo.
ITAEx – Como o senhor já citou, a Associação desempenha um papel importante no apoio à ITAMAT. Como essa colaboração tem influenciado a qualidade e o alcance da preparação oferecida aos alunos?
ARG – Desde 2008 a motivação dos Alunos para a dedicação ao estudo cresceu muito, diante da realidade da obtenção de patrocínio para a viagem à olimpíada internacional. A partir de 2023, com o apoio da ITAEx, essa motivação se consolidou e tornou-se ainda mais consistente, impulsionando o compromisso dos estudantes com suas trajetórias acadêmicas.
ITAEx – O senhor possui formação acadêmica em Ciência da Computação e Matemática Aplicada. No ITA já ganhou o Prêmio Láurea Casimiro Montenegro Filho, em 2017, por práticas pedagógicas inovadoras. Como sua formação e experiência influenciam sua abordagem ao ensino e à preparação dos alunos para competições?
ARG – Na verdade, minha abordagem ao ensino, propriamente dita, aplicou-se mais às olimpíadas de computação. Quanto ao assunto em pauta, olimpíada de matemática, meu papel principal não foi o ensino, mas sim a captação de recursos para viabilizar a viagem e a participação dos Alunos do ITA. Nesse sentido, podemos dizer que impulsionei a participação nas olimpíadas que, em consequência, refletiu-se no aperfeiçoamento acadêmico dos Alunos.
ITAEx – O senhor também já recebeu o Prêmio Weis, sendo destacado por seus Alunos. O que esse reconhecimento significa e como reflete em seu trabalho com os Alunos?
ARG – Com certeza, essa premiação, para mim e para diversos outros docentes, se reflete na gratidão por ver que nosso trabalho em sala de aula é valorizado. E nós, os professores, nos sentimos mais motivados para colocar ainda mais empenho no ensino ministrado em sala de aula.
ITAEx – Como o seu trabalho, desenvolvido na ITAMAT e em competições como a IMC, contribui para o fortalecimento do ensino de Matemática e Ciências Exatas no ITA? O que pode ser feito para continuar avançando?
ARG – O ensino de Matemática e Ciências Exatas no ITA nem sempre tem aderência dos Alunos nos dois primeiros anos, pois a maioria não sabe qual aplicação esse estudo poderá ter na Engenharia propriamente dita, que só será cursada do terceiro ao quinto ano. Assim, muitos ficam desmotivados para se dedicar a assuntos que consideram “teóricos”. Estudam o mínimo, apenas para “passar de ano”. Diante disso, a competição na olimpíada constitui a maior motivação prática para os alunos estudarem matemática, inclusive dedicando seus finais de semana a esse estudo.
ITAEx – Qual é a sua visão futura da ITAMAT e das Olimpíadas de Matemática no contexto acadêmico do ITA? Existem novos projetos ou iniciativas que estejam planejando para expandir ainda mais o impacto dessas competições na formação dos Alunos?
ARG – Por enquanto, eles estão participando das olimpíadas brasileira e internacional e, também, da ibero-americana, cujas provas eu mesmo aplico aos Alunos no ITA. Mas, se a arrecadação de patrocínio crescer, será possível inscrever e financiar também a viagem de equipes para uma outra olimpíada ibero-americana que ocorre presencialmente, cada ano em um país: Colômbia, Guatemala, México etc.
ITAEx – Como a Associação tem contribuído para o seu trabalho no ITA?
ARG – Em primeiro lugar, com o suporte (conta bancária, CNPJ, contratos), que atende exatamente às minhas necessidades, e para as quais eu utilizava de outras associações e fundações desde 2008. Em segundo, além dos financiamentos que eu já vinha obtendo, a ITAEx agora ajudou a ampliar os contatos com possíveis patrocinadores.
ITAEx – O que a Associação pode melhorar para promover ainda mais o fortalecimento do ensino de excelência do ITA?
ARG – Alguns anos atrás, solicitei apoio da ITAEx para cobrir os gastos com viagens, que sempre foram minha principal necessidade. Portanto, além das doações que consigo diretamente, o que a ITAEx pode fazer é continuar, como ocorreu em 2023 e 2024, a oferecer seu suporte financeiro para as viagens da equipe da ITAMAT.