Daniel Geiger Campos (T94) é graduado summa cum laude em Engenharia Aeronáutica pelo ITA e complementou sua formação no International Institute for Management Development (IIMD), na Suíça. O iteano é presidente da AkzoNobel América Latina e, aos 51 anos de idade, combina visão estratégica com histórico de transformação de negócios e desenvolvimento organizacional em múltiplas culturas e mercados.
Juntou-se à AkzoNobel em 2015 como Diretor Executivo de Tintas Decorativas para a América Latina, liderando uma unidade de negócios de mais de US$ 500 milhões. Avançou para Diretor Regional em 2018, ampliando sua responsabilidade para operações que totalizam US$ 1,4 bilhão na região, incluindo a integração estratégica do grupo Orbis. A partir de 2021, assumiu também os programas globais de Marketing de Tintas Decorativas, focando em branding, inovação e cores.
Com uma carreira prévia de três anos na Natura e mais 19 anos na Procter & Gamble, acumulou experiência global em gestão geral, vendas e marketing em diversos setores e geografias – morou e trabalhou nos EUA, México e Peru, além do Brasil.
Daniel mostra a importância de educar sua visão para reconhecer tanto as semelhanças quanto as diferenças entre as culturas locais. Isso é fundamental para realizar benchmarks eficazes e replicar ideias bem-sucedidas de um mercado para outro. Ele observa que muitos líderes cometem o erro de tentar implantar soluções idênticas em todos os países, o que geralmente não funciona. Por outro lado, nota que outros perdem oportunidades ao afirmar que “aqui é diferente”, deixando de aprender com as experiências de outros mercados. Essa perspectiva ampla não apenas informou sua abordagem em liderança global, mas também o capacitou a desenvolver estratégias mais adaptadas e eficazes em diferentes contextos culturais e empresariais.
Liderar em contextos culturais diversos exigiu uma habilidade significativa em empatia, adaptação e comunicação, aspectos fundamentais para o sucesso contínuo como líder. Essas vivências foram essenciais para seu crescimento pessoal e profissional, fortalecendo suas competências essenciais ao longo do tempo.
Ele destaca que os líderes empresariais enfrentam desafios significativos no atual ambiente de negócios, chamado por alguns de VUCA (caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) e por outros de BANI (pela fragilidade, ansiedade, não-linearidade e incompreensibilidade). Essas condições desafiadoras exigem que os líderes compreendam uma ampla gama de temas e se adaptem rapidamente às mudanças constantes. Além disso, menciona o desafio de gerenciar um ambiente de trabalho com múltiplas gerações, especialmente transformado pela pandemia, enfatizando a necessidade de empatia, habilidades de comunicação e capacidade de engajar diversos públicos por meio de diferentes canais.
Conciliar a geração de valor para clientes e sociedade com a entrega de retornos crescentes no curto prazo para acionistas cada vez mais exigentes é mais um desafio apontado por Daniel. Ele afirma que a importância de capacidades analíticas e estratégicas, combinadas com disciplina na execução das estratégias empresariais, é a solução.
Ele tem atuado em conselhos desde 2009 e, atualmente, é Presidente do Conselho da Associação Brasileira de Tintas (Abrafati) e Vice-Presidente da Câmara de Comércio Holanda-Brasil (Dutcham).
Daniel tem sido um defensor da sustentabilidade ao longo de sua carreira. Ele cita uma pesquisa da Kantar, que ouviu 26 mil consumidores em vários países, incluindo o Brasil, onde 56% da população já evita marcas que não investem em sustentabilidade ou têm práticas prejudiciais ao meio ambiente e à sociedade. Esse número aumenta para 63% entre os consumidores que procuram ativamente marcas com histórico de ações sustentáveis.
Ressaltando a importância das empresas evoluírem constantemente em suas práticas sustentáveis para não perderem mercado, Daniel diz que sustentabilidade é uma pauta cada vez mais constante nos diálogos com seus clientes. Uma parte da estratégia da AkzoNobel é liderar em inovação sustentável, agregando ainda mais valor aos produtos e serviços oferecidos pela empresa. “Para nós, a sustentabilidade é o negócio, e o negócio é a sustentabilidade”, enfatizando que foram estabelecidas metas ambiciosas, como a redução de 50% de sua pegada de carbono entre 2018 e 2030, o que contribuiu para seu reconhecimento como a empresa mais sustentável em seu setor por vários rankings independentes.
As práticas significativas de Daniel na indústria de bens de consumo formaram sua abordagem para enfrentar desafios no setor de tintas e revestimentos, além de como aplicar essa vivência para impulsionar inovações e crescimento em sua função atual na AkzoNobel. Ele destacou que sua formação no setor o treinou para começar, sempre, compreendendo profundamente o cliente, seus desejos, necessidades e frustrações. Para ele, as respostas para impulsionar o crescimento ou reverter tendências negativas sempre estão enraizadas nesse entendimento.
Daniel compartilhou, também, sua abordagem disciplinada para gerenciar o tempo e a energia, incluindo práticas como exercícios físicos, alimentação saudável, sono adequado e pausas regulares. “Não somos máquinas, e mesmo as máquinas param para manutenção programada”. E, falando de seus valores pessoais, especialmente em relação à família e à felicidade, ele revela que desempenham um papel importantíssimo em suas decisões de liderança na AkzoNobel, especialmente em um ambiente corporativo global e dinâmico. Lembrou da importância de cuidar de si mesmo como uma prioridade inicial, comparando isso a colocar a sua máscara de oxigênio primeiro, antes de ajudar os outros. Para ele, isso significa equilibrar de forma consciente as demandas pessoais, familiares, profissionais e sociais.
Sublinhou, ainda, a importância de um olhar empático para as pessoas dentro da organização, criando um ambiente de trabalho onde todos cuidam de si mesmos e dos outros. Isso envolve garantir que todos entendam claramente a direção, as metas e prioridades da empresa, e ter um espaço aberto de diálogo com os gestores para feedback contínuo, ideias e negociação de prazos. Dessa forma, ele encoraja uma cultura onde erros acontecem, mas precisam ser rápidos, de baixo custo e originais, e que sejam vistos como oportunidades de aprendizado. Esses valores pessoais não apenas informam suas decisões de liderança, mas também moldam o ambiente que ele busca cultivar na AkzoNobel, promovendo o bem-estar pessoal e profissional dos colaboradores, enquanto impulsiona a excelência e a inovação na empresa.
Daniel enfatiza a importância da capacidade de compreender uma ampla gama de temas e se adaptar rapidamente a novos contextos em um mundo em constante mudança. Para ele, essa habilidade é muito importante para enfrentar os desafios contemporâneos e liderar com eficácia em ambientes dinâmicos.
Ele compartilhou seu envolvimento pessoal como investidor-anjo na Altave, uma empresa fundada por Ex-Alunos do ITA, Bruno Avena (T10) e Leonardo Nogueira (T10), como um exemplo do impacto positivo de investimentos em projetos inovadores e empreendedores dentro da comunidade iteana.
Daniel vê sua carreira profundamente influenciada pelo ITA, especialmente na transição para áreas como Marketing e Gestão de Negócios. Seu tempo na escola não apenas ampliou sua capacidade de resolver problemas complexos de forma independente e em equipe, mas também desenvolveu sua disciplina para equilibrar desafios acadêmicos com atividades extracurriculares significativas, como sua participação na ITA Júnior, que ajudou a fundar em 1992. A ITA Júnior desempenhou um papel destacado em sua formação profissional ao introduzi-lo na dinâmica empresarial e na importância do atendimento ao cliente.
Foi nesse período que ele descobriu sua afinidade pelo desafio intelectual, trabalho em equipe e suas habilidades naturais para essas áreas. Participar do grupo de fundadores da ITA Júnior, ao ser convidado por colegas, teve um impacto profundo em sua visão sobre empreendedorismo e liderança desde cedo.
Vindo de uma família de profissionais liberais, Daniel inicialmente não tinha experiência prática em trabalhar dentro de uma empresa, o que tornou a experiência na ITA Júnior reveladora e gratificante. Construir e expandir uma empresa dentro desse contexto permitiu-lhe entender o ciclo virtuoso, onde os recursos gerados em um projeto financiam o próximo, contrastando com experiências anteriores, como a frustração ao não conseguir financiamento para uma peça de seu trabalho de graduação no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse período despertou seu interesse pelo empreendedorismo e moldou sua compreensão sobre liderança, ensinando-o a construir e administrar uma organização desde o início de sua carreira.
A transição do ambiente acadêmico do ITA para uma grande multinacional como a P&G foi facilitada pela experiência na ITA Júnior e pelo estágio, que foram fundamentais para sua adaptação. Ele aprendeu a mudança fundamental na avaliação: não apenas responder corretamente, mas criar impacto real através de análise e resolução de problemas, coordenando equipes multidisciplinares e adaptando a execução e estratégia conforme necessário. Essa mudança não apenas consolidou seus conhecimentos técnicos, mas também o preparou para desafios corporativos complexos, enfatizando a importância de colaboração, adaptação e comunicação eficaz em um ambiente dinâmico como o de uma multinacional.
Daniel compartilha conselhos com estudantes que buscam construir uma carreira de sucesso com base em sua trajetória pessoal. Ele enfatiza a importância de ter um sonho claro e persegui-lo com determinação, destacando que entender seus objetivos é fundamental para fazer escolhas informadas ao longo da jornada profissional. Argumenta que seguir suas paixões, em vez de perseguir apenas ganhos financeiros, frequentemente leva a um desempenho melhor e mais duradouro.
No entanto, ele reconhece que não há vergonha em mudar de direção se surgirem oportunidades mais interessantes ao longo do caminho. Ele encoraja a adaptabilidade e a busca por propósito genuíno, ressaltando que a realização profissional vem da combinação entre paixão pelo trabalho e habilidade para se ajustar às circunstâncias e oportunidades que surgem.
Quanto ao futuro, Daniel deseja continuar aprendendo e crescendo como executivo global na AkzoNobel, ganhando mais autonomia e escopo em suas responsabilidades. Ele também espera dedicar-se a funções não executivas, como participar de Conselhos, dar aulas, e mentorar novos líderes, mantendo-se ativo e contribuindo para o desenvolvimento de outras gerações de profissionais.
Ele destaca que o papel da ITAEx – em conjunto com outras entidades como a Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA), o Fundo Endowment – Associação Fundo Patrimonial do ITA (AFPITA) e a Fundação Casemiro Montenegro Filho (FCMF), como um ecossistema – complementa a formação oferecida pelo ITA, proporcionando suporte adicional e oportunidades para Alunos e ex-Alunos realizarem seus projetos e alcançarem seus objetivos empreendedores. Essa perspectiva demonstra seu apoio entusiasmado ao papel da Associação e de outros parceiros no fortalecimento da comunidade iteana, contribuindo para a inovação e o desenvolvimento contínuo do ITA.