Do ITA ao Vitae Brasil

Uma conversa sobre Educação e Inovação com Luis Namura

Nessa entrevista, Luis Antonio Namura Poblacion (T80) revela sua trajetória como Engenheiro Eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e sua jornada de empreendedor apaixonado por educação e inovação. Namura compartilhou insights sobre como sua formação no ITA moldou seu pensamento empreendedor e sua abordagem para resolver desafios complexos. Ele conta desde sua experiência como professor, ainda durante a graduação, até sua atuação como líder do grupo Vitae Brasil, destacando a importância da integração entre tecnologia, educação e sustentabilidade como pilares fundamentais para um futuro promissor.

Acompanhem, abaixo, a entrevista com o iteano!

ITAEx – Que caminhos levaram o Luis Namura engenheiro ao empreendedor?

Luis Namura – Comecei a dar aulas quando estava no primeiro ano da graduação; isso me fez tomar gosto pela atividade de “explicador”. Acho que isso tem tudo a ver com nossa trajetória no próprio ITA, pois, em síntese, nossa escola busca formar pensadores que vão à caça de entender como as coisas funcionam, como podem ser melhoradas ou como podem ser criadas. Explicar passa por compreender, e isso é o que é fascinante na Engenharia.

ITAEx – Como sua formação em Engenharia Eletrônica pelo ITA influenciou sua abordagem para empreendedorismo e inovação ao longo de sua carreira? 

LN – O ITA propõe desafios o tempo todo ao alunado e isso cria um modus operandi de “busca por soluções”. A atividade empresarial – em especial em um mundo que muda a cada segundo e que, portanto, gera novos desafios a todo tempo – acaba por exigir reflexão sobre como solucionar tais desafios. O raciocínio lógico que desenvolvemos no ITA é a principal ferramenta que levamos para a vida, para nos auxiliar a resolver novos problemas antes nunca vistos. A meu ver, o ITA, antes de formar engenheiros, forma pesquisadores, pessoas que enfrentam desafios intelectuais complexos sem que isso lhes cause incômodo ou desânimo, pelo contrário, empolga pela possibilidade de encontrar soluções inusitadas.

ITAEx – Qual é a sua visão do ITA ontem e hoje? 

LN – Não tenho acompanhado as ações diárias do ITA hoje, mas imagino que sua principal característica seja cultivar os valores tão caros – e que fizeram dele essa instituição de ensino tão respeitada -, como a Disciplina Consciente e a Qualidade do Ensino ofertado, aliado a um vestibular que busca selecionar alunos que se dispõem a doar seu tempo para a conquista de um conhecimento de alto valor para o mundo em que vivemos. Importante salientar que disciplinas de administração e marketing devem, na minha opinião, ser incluídas no currículo, visto que tais conteúdos são imprescindíveis para aqueles que irão, no futuro, ocupar cargos C-Level nas empresas ou governos.

ITAEx – Você defende a integração de Inteligência Artificial (IA) e Educação nas salas de aula brasileiras. O ITA se encaixa nisso? E, ainda, que coisas boas podem trazer para um iteano em graduação?

LN – A IA faz parte da vida e como tantas outras tecnologias disruptivas que surgiram no passado e hoje fazem parte do dia a dia, ela também causa perplexidade, porém será cada vez mais incorporada em todas as áreas da atividade humana. Portanto, não será possível desprezá-la, teremos sim que fazer bom uso dessa tecnologia e utilizá-la em todo seu potencial como uma “prótese” da inteligência humana aliada na solução de problemas complexos. Sendo a escola, e o ITA em particular, o ambiente que por sua natureza tem a função de preparar o indivíduo para conviver em sociedade de forma civilizada e produtiva não poderá prescindir de se apropriar dessa ferramenta que já está presente na vida das pessoas, empresas e instituições. Acredito que incorporá-la ao ambiente acadêmico passa por analisar a melhor forma de utilizá-la em prol de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem por meio das novas metodologias educacionais hoje presentes nos melhores ambientes universitários do mundo, tais como metodologias ativas de aprendizagem (espaços maker, abordagem por projetos etc.) onde o principal intuito é colocar o aluno como protagonista do seu aprendizado.

ITAEx – Como líder da holding Vitae Brasil, você está envolvido em várias áreas. Como elas se relacionam?

LN – O próprio nome Vitae remete ao conceito do grupo: lidar de forma inusitada com a vida, buscando sempre melhores soluções para os desafios nas diversas áreas que atuamos; assim, a palavra VIDA (Vitae) surge no propósito de cada vertical em que atuamos:

• Educação: preparar para a VIDA
• Saúde: cuidar da VIDA
• Meio ambiente: valorizar a VIDA no planeta
• Energia: prover insumo para VIDA
• Startups: facilitar a VIDA das pessoas e empresas

ITAEx – Como você vê a transição da educação tradicional para a contemporânea, e quais são os principais desafios nesse processo?

LN – A transição está no cerne de nossa existência. A maior demonstração da inteligência humana é sua capacidade de adaptação; aliás, não fosse essa estupenda habilidade não teríamos descido das árvores e não estaríamos aqui conversando. Portanto, a educação contemporânea sinaliza para um maior protagonismo do aluno; passaremos de um roteiro onde o professor está no centro do processo para um modelo em que esse local passa a ser ocupado pelo aluno. Passaremos aos poucos de educação fundamentada na resposta para uma educação fundamentada na pergunta. Nesse modelo, a tarefa do professor vai além da tradicional figura do “explicador” e passa para a figura do “orientador”; desafios são propostos aos alunos que, em grupo, buscam as soluções e utilizam todas as ferramentas disponíveis para melhor alternativa. Dentre o conjunto de “ferramentas” estão os grupos de trabalho, a orientação dos mestres, a inteligência artificial, as fontes digitais de pesquisa, os laboratórios de testes etc. Qual o objetivo dessa abordagem? É desenvolver as habilidades cognitivas (hard skills) e as socioemocionais (soft skills) dos alunos, hoje em dia, mais do que nunca, absolutamente imprescindíveis para o sucesso profissional.

ITAEx – As startups avançam na educação, e que tipos de inovação você acredita que elas podem trazer para o setor? 

LN – Já estão trazendo! Por exemplo, o ensino personalizado, o flipped learning, os maker spaces, os roteiros adaptados ao modo de aprendizagem mais eficaz para cada público-alvo, entre outras ferramentas e abordagens metodológicas atualmente disponíveis.

ITAEx – Sua experiência como empreendedor influenciou sua abordagem na educação ou, foi o contrário, a educação influenciou o empreendedorismo?

LN – É uma via de mão dupla; o ensino auxilia a prática empresarial e essa consolida o aprendizado. Porém, basicamente, temos de entender quais são as três etapas indissociáveis da jornada da aprendizagem: informação, formação e transformação. Decupando esse processo, podemos inferir que, para termos uma aprendizagem eficiente, o cérebro precisa passar por esses três estágios, quais sejam:

1º) informação: a aquisição da informação somente ocorre se o aluno estiver motivado e, para tal, as abordagens metodológicas devem estar de acordo com o público-alvo;

2º) formação: corresponde à fase em que o aluno, motivado, se debruça sobre o objeto de estudo e aprende sobre o mesmo; tal fase exige dedicação e empenho, portanto, o “prêmio”, decorrente desse esforço, deve ser perceptível e alcançável;

3º) transformação: nesse terceiro momento ocorre a “apreensão” do objeto estudado; tal se dá pela aplicação do objeto de estudo na prática e observação dos resultados daí decorrentes.

Todo esse arcabouço vem da interação “educação X empreendedorismo”

ITAEx – Você é um defensor do compartilhamento de conhecimento. O que sugere para os jovens estudantes do ITA e futuros empreendedores ou educadores para fazerem diferença na sociedade por meio da inovação?

LN – No passado, poder significava deter um conhecimento que outros não detinham. Em grande parcela isso ainda continua verdadeiro, em especial para as inovações. Entretanto, para assuntos de domínio público, essa máxima se inverte, pois, nesse caso, como o conhecimento pode ser adquirido em qualquer site da internet, poder significa exatamente o contrário, ou seja, ao invés de guardar o conhecimento para si, você deve compartilhar com os demais, pois isso carreia autoridade para sua marca pessoal. Autoridade gera engajamento e posteriormente crescimento. Os grandes líderes atuais são situacionais e inspiracionais, eles lideram pelo exemplo, pela motivação por uma causa nobre e buscam discernir quando devem agir de forma mais impositiva ou consensual frente a cada situação específica que estão enfrentando. Eles difundem conhecimento e valores para engrandecer seus colaboradores.

ITAEx – Pode compartilhar algumas das principais lições que aprendeu enquanto atuava como professor em escolas técnicas e no curso pré-universitário? 

LN – Comunicação clara e objetiva! Qualquer interação humana depende para seu êxito de dois elementos fundamentais: conteúdo e forma! Uma aula também versa sobre esses elementos, pois o conteúdo reflete aquilo que o professor domina e busca repassar aos seus alunos, e forma é a maneira que ele executa essa função, ou seja, a didática aplicada ao conteúdo para se fazer compreender. Qualquer líder deve dominar o assunto sobre o qual pretende atuar (conteúdo), porém, se não souber como repassá-lo de forma inteligível (forma) terá imensa dificuldade de levar adiante seus projetos empresariais ou pessoais.

ITAEx – Sendo especialista em Marketing e Administração de Empresas, como você vê a interseção entre essas áreas e a educação?

LN – Toda empresa tem de ser uma empresa educadora! A principal ocupação de um líder não é cobrar tarefas de seus colaboradores, mas sim, dar a eles direção e propor os desafios que devem ser superados para alcançarem seu desiderato. Portanto, educar e apoiar o desenvolvimento de seu time estão no cerne do líder moderno. Aqueles que dizem que educar é caro, um dia vão experimentar o custo que a falta dessa educação trará aos seus negócios.

ITAEx – Como você equilibra seu papel como mentor de empresas, conselheiro de startups e palestrante?

LN – Agenda é tudo que você precisa para dar conta dos diversos compromissos que assume. Divida seu tempo entre afazeres urgentes e importantes: urgentes refletem atividades que não podem esperar (são para agora); importantes refletem atividades que geram impactos no futuro caso não sejam executadas (são para o amanhã). Quem se concentra apenas nas atividades urgentes nunca terá tempo para as importantes e deixará o futuro ao sabor do vento. Quem se concentra apenas nas importantes pode tropeçar nos “detalhes” do dia a dia e comprometer a saúde da empresa no curto prazo. No mais, estudo constante acerca de tudo que você tenha interesse ou necessidade de aprender é imprescindível: “lifelong learning” não pode ser apenas um conceito bonito, tem de ser uma prática vitalícia. 

ITAEx – Você fundou várias empresas ao longo de sua carreira. Quais são os principais desafios que enfrentou e superou como empreendedor? 

LN – Encontrar as melhores pessoas para caminhar ao meu lado e enfrentar os desafios a que me propus. A seguir, manter viva a chama inicial que os projetos e as pessoas demonstraram no início do processo frente aos desafios crescentes que surgem do crescimento. Por fim, mas não menos importante, criar lideranças fortes e comprometidas com o propósito de cada empresa. 

ITAEx – Como você vê o futuro da Vitae Brasil?

LN – O futuro é sempre um desafio dado as mudanças constantes do mercado, porém, os cinco princípios que nos trouxeram até aqui continuam válidos, fazem parte da cultura do grupo e deverão se traduzir em perenidade e crescimento continuado; eles compõem o acrônimo PRICE: P – perseverança; R – resultado; I – inovação; C – colaboração; E – equilíbrio. Crescer de modo consistente e impactar positivamente o ecossistema em que atuamos são dois objetivos primordiais de nossa cultura empresarial. 

ITAEx – Qual o principal insight nesses mais de 30 anos de experiência de mercado?

LN – Não tenha medo de arriscar; fazendo isso com parcimônia você sempre ganha: quando acerta, obtém os resultados esperados; quando erra, obtém o conhecimento que lhe faltava. 

ITAEx – Como você se define, Luis Namura?

LN – Não me defino, pois isso faria minha mente acreditar nessa definição e isso se tornaria um rótulo que limitaria meu pensamento; e esse pensamento limitado limitaria a ação. Deixo essa definição para aqueles com quem tenho o prazer de me relacionar.