Rui Chammas acostumou-se a transformar desafios em oportunidades. Foi assim nos tempos de ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), onde se formou em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica (atual Engenharia Civil-Aeronáutica) na Turma de 1988. E assim seguiu em sua trajetória profissional, onde conseguiu ocupar posições de destaque em grandes empresas de setores bastante diversos, como Plásticos, Têxtil, Petroquímico, Sucroenergético e, desde 2020, Energia.
Há quatro anos, o iteano é CEO da ISA CTEEP, empresa líder no segmento de transmissão de energia elétrica no Brasil. Tem sob sua responsabilidade 30% de toda a energia elétrica transmitida pelo Sistema Integrado Nacional (SNI), número que deve crescer ainda mais nos próximos anos, com investimentos da ordem de R$ 15 bilhões até 2027.
“Tive a oportunidade de me realizar trabalhando em vários segmentos da indústria, aprendendo coisas novas a cada momento. Olhando para a trajetória, a evolução foi ocorrendo junto com as oportunidades que se apresentaram. Não foi linear, e muitos desafios apareceram no meio do caminho”, afirmou Chammas ao portal ITAEx.
“Minha carreira foi marcada pela necessidade permanente de aprender temas novos, equacionar questões complexas e liderar equipes, aspectos que são fundamentalmente objetos de aprendizado no ITA, no H8 e, sobretudo, na convivência com os colegas e professores”, acrescentou.
Em um bate-papo exclusivo, o executivo – apontado recentemente pelo grupo Full Energy como uma das personalidades mais influentes do país na área de Energia – fala sobre os tempos de faculdade, os desafios na jornada profissional e as perspectivas do setor de energia nos próximos anos no Brasil. Confira:
Depois de se formar no ITA, você acabou trilhando um caminho de sucesso em cargos executivos fora do setor aeronáutico. Como foi essa sua jornada? Era uma transição que você buscava ou resultado de oportunidades que surgiram em sua trajetória?
Tive a oportunidade de me realizar trabalhando em vários segmentos da indústria, aprendendo coisas novas a cada momento. Olhando para a trajetória, a evolução foi ocorrendo junto com as oportunidades que se apresentaram. A evolução não foi linear, e muitos desafios apareceram no meio do caminho. Creio que, em minha carreira, ser iteano é uma base importante que marca minha forma de fazer as coisas.
De que forma você acredita que a formação no ITA contribuiu para o seu sucesso profissional?
Desde minha formatura, em 1988, tive a oportunidade de atuar em diversos setores da indústria: Plásticos, Textil, Petroquímico, Sucroenergético e Energia. Nesse sentido, posso garantir que a minha carreira foi marcada pela necessidade permanente de aprender temas novos, equacionar questões complexas e liderar equipes, aspectos que são fundamentalmente objetos de aprendizado no ITA, no H8 e, sobretudo, na convivência com os colegas e professores.
Você ainda mantém contato com amigos de turma?
Sim. Tenho contato com boa parte da turma por meio de encontros eventuais e um grupo de WhatsApp. O ITA também me deu amigos, com quem tenho a felicidade de manter um contato mais próximo até hoje.
Você comanda uma empresa presente em 18 estados do Brasil, com 23 mil quilômetros de linhas de transmissão, 30 mil quilômetros de circuitos e que é responsável por 30% de toda a energia elétrica transmitida no país. Para você, quais são as características essenciais para um executivo conseguir ter sucesso à frente de uma empresa tão grande e complexa?
A realização é sempre da equipe. O líder empresarial tem o papel de servir a sua equipe. De compartilhar, de modo permanente, a visão do caminho a ser seguido. E estar disponível e próximo para poder apoiar no equacionamento de temas mais críticos. Nesse quesito, nosso papel é o de simplificá-los ou reduzi-los, de forma que a equipe encontre o seu equacionamento.
Na sua opinião, quais são os desafios do setor de energia nos próximos anos?
O setor de energia está no centro de grandes desafios globais, como a transição energética e a necessidade iminente da redução das emissões de gases de efeito estufa. Nessa jornada, os consumidores estão ganhando cada vez mais poder, podendo escolher os seus fornecedores e sendo capazes de produzir a sua própria energia. Por isso, é preciso garantir uma rede de transmissão altamente confiável, que permita a integração cada vez maior de fontes renováveis e que seja resiliente aos eventos climáticos extremos.
Inovação e tecnologia são peças-chave, pois vão permitir desenvolver novos modelos de integração, como, por exemplo, sistemas de armazenamento de energia em larga escala, e romper com os paradigmas do setor elétrico. Os impactos da atuação desses elementos no mercado variam para cada país e não existe uma receita única.
Como sempre, estes desafios trazem muitas oportunidades para as empresas que os entenderem e conseguirem endereçá-los com eficácia, assim como para os profissionais que estão atuando no setor e participando dessas iniciativas. Estamos em um momento único.
Como conciliar a expansão do setor elétrico com as consequências de eventos climáticos extremos, que têm se tornado cada vez mais frequentes?
Resiliência e adaptação climática devem estar em nossas agendas. Até recentemente, o mundo tinha focado seus esforços em planos de mitigação para limitar as emissões de CO2. No entanto, em vista dos últimos dados, a comunidade internacional diversificou seus esforços para impulsionar políticas de adaptação, visando minimizar os efeitos desse fenômeno, cujas consequências já estamos sofrendo em diferentes partes do planeta. Ambas as estratégias são complementares e, embora apresentem desafios diferentes, convergem ao mesmo objetivo e devem ser implementadas de forma simultânea.
A diferença entre as estratégias de mitigação e adaptação é que, no primeiro caso, o objetivo é combater as causas e minimizar os possíveis impactos das mudanças climáticas no futuro, limitando o aquecimento global e reduzindo significativamente as emissões, enquanto o segundo caso consiste em analisar de que forma devemos nos adaptar e reduzir as consequências negativas das mudanças climáticas hoje, mitigando riscos e aproveitando as oportunidades que podem originar.
Na medida em que as estratégias de mitigação levem mais tempo para alcançar os objetivos de contenção das emissões, a resiliência climática e seus conceitos deverão ser aplicados nas novas e atuais infraestruturas para atenuar o impacto dos eventos climáticos extremos.
Em dez anos, você acredita que a energia solar e a energia eólica terão qual peso no Brasil?
A energia solar e eólica dominou a expansão da matriz elétrica do Brasil em 2023, responsável por mais de 90% da capacidade adicionada no país ao longo do ano, conforme apresentou o Ministério de Minas e Energia. O futuro também é promissor: segundo estudos do setor, as duas fontes, incluindo a minigeração distribuída, passarão de cerca de 18 % da matriz energética para mais 30% da matriz elétrica nos próximos dez anos.
Para encerrar, que papel você acredita que o nosso país terá no cenário global nos próximos anos nesta corrida por energias limpas?
Nosso país tem uma competitividade rara, mas não única, na geração de energias renováveis. Temos de buscar uma maneira de transformar esta energia em fonte de geração de riqueza, agregando valor através do desenvolvimento e da eletrificação de nossa indústria. É importante salientar que, como indicado na pergunta, haverá uma corrida para transformar este tipo de vantagem em geração de valor para o país, e caberá a nós facilitarmos que este desenvolvimento aconteça o mais rápido possível.